"NÃO SOU NENHUM SÃO TOMÉ" Crônica de: Flávio Cavalcante
NÃO SOU NENHUM SÃO TOMÉ
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Dizem que só acreditamos vendo. Que é preciso tocar para ter certeza, que a fé exige prova material. Mas, com todo respeito a São Tomé, eu não sou de duvidar assim, não. Preciso, sim, de algo em que crer, mas não precisa me cair no colo, nem brilhar aos meus olhos. Basta a certeza que nasce aqui dentro, a fé que eu cultivo sem ver.
A história de São Tomé é famosa: mesmo após ouvir relatos de que Cristo havia ressuscitado, ele insistiu em ver as marcas dos pregos, em tocar as feridas. E só depois, ao fazer isso, deixou cair seu ceticismo. Mas a vida real nem sempre nos oferece chances de tocar aquilo em que queremos crer. Nossa evolução não precisa desse tipo de confirmação física. No fundo, precisamos de algo que nos dê esperança, que nos leve além do material e do passageiro.
A vida é cheia de mistérios e desafios, e é fácil se perder num mar de dúvidas. A fé, mesmo pequena, é como um farol aceso na neblina. Não precisamos ver o caminho todo, apenas o próximo passo. É esse o convite da espiritualidade: seguir, ainda que em meio ao desconhecido. Apoiar-se em algo que a visão não alcança, mas que o coração reconhece.
Para muitos, esse apoio é uma religião; para outros, uma crença no bem, no universo, na força de algo maior. Não importa qual nome se dá a essa força, mas que ela exista, que ela alimente nossa jornada e nos ajude a seguir. Afinal, crer é um exercício de humildade e coragem. Não se trata de um caminho fácil, mas é um caminho que nos ajuda a ser melhores.
Afinal, se São Tomé precisou tocar para acreditar, quem sou eu para julgar? Cada um busca seu modo de crer. Mas eu, sinceramente, não preciso tocar. Porque acredito que a fé, mesmo sem forma visível, é o maior sustentáculo que podemos ter. E isso me basta para seguir e para continuar a crescer espiritual e humanamente.
Flávio Cavalcante