"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO". PROUST E A VONTADE.
A ilha chamada Marcel Proust tem em seu entorno leitores de uma grandiosa literatura. Nada como não aceitação do talento fulgurante na vivência da época e seus hábitos e contrastes se afastam da leitura, mas de interrogativos e dificuldades para entender seu universo riquíssimo. Muitos olham o autor com reservas sob ângulo moral em suas abordagens. Vejo existir muita dificuldade em ler Proust, não pela necessidade de fôlego, nem pela densidade autoral, mas por inexistência de logos.
Sua obra, “Em Busca do Tempo Perdido”, romance entre os poucos de magnitude mundial, atravessando o tempo, tempos civilizatórios, tem acolhida realmente dos que podem abordá-la.
Cansativa para beócios e reduzidos em exegese, insuficientes em critica até mesmo negativa. Ausência do silêncio insciente.
Já de pronto, o “Longtemps je me suis couché de bonne heure”, por muito tempo me deitei cedo, é autocrítica para desafio dos preguiçosos. Não é possível ler só “almanaques” e escritores que caminham “pela rama”, asfixiando livrarias de nulidades e estar verdadeiramente informado sobre a civilização e o que nela se produziu de melhor. Restam espaços vazios de cores e luzes . Mostra o tempo perdido nesse deitar cedo em detrimento de seu conhecimento do mundo e das gentes. O tempo perdido é irrecuperável.
Tecelagem literária detalhada, onde hábitos e beleza das tardes amantes são discorridas na riqueza das paixões e na censura dos desejos reprimidos.
Quantos (as) se encarceram na inibição das vontades, prodigiosamente esmiuçada por Proust.
"Aqueles que amam e os que são felizes não são os mesmos. A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos."
Grande verdade, e tantos há nessa vertente.
Obras proustianas, de muitas verdades, apresentam análise psicológica e social, além de criticarem a aristocracia e a elite burguesa, que pensam ser felicidade fúteis conquistas materiais, enquanto sufocam o ouro do desejo epicurista. Em busca do tempo perdido, obra extensa, dividida em sete volumes, nada deixa de examinar.
“Se as paixões se excitam no olhar e crescem pelo ato de ver, não sabem como se satisfazer; o ver abre todo o espaço ao desejo, mas ver não basta ao desejo.”
Afetos, desejos e liberdade, andam no mesmo caminho.
O fogo escondido na beleza das mulheres realmente belas, assediadas pelo favor da natureza, não são alcançáveis pela intimidação da vontade, mesmo que suas felicidades estejam aquinhoadas pela estética, e a beleza perseguida ininterruptamente.
Difícil perseguir uma beleza inexistente sob os artifícios dos tratamentos e intervenções todas, hoje disponíveis para o dinheiro, tão difícil como encarcerar a vontade sob o pálio cercado da falta de razão onde não reside a felicidade.