Frivolidade

Hoje em dia, os relacionamentos parecem mais leves do que nunca. Leves a ponto de quase desaparecerem na primeira brisa. A gente começa com uma mensagem, passa para um encontro, duas saídas e, de repente, estamos na intimidade de alguém que ainda mal conhecemos. Tudo parece fluir com tanta facilidade, sem grandes promessas ou expectativas. Mas talvez essa leveza seja só uma nova forma de fragilidade, um modo disfarçado de dizer que não estamos nos comprometendo tanto assim.

O problema é que, no meio desse ritmo acelerado, acabamos deixando de lado o que realmente constrói uma relação. As conversas longas, as descobertas lentas, os silêncios confortáveis. Nos tornamos rápidos para nos apaixonar e mais rápidos ainda para nos desapegar, como se o amor fosse algo que se consome em velocidade. A cada novo perfil, uma nova possibilidade, e a gente vai deslizando pelas opções, acreditando que o próximo sempre será melhor. Mas é curioso como, na maioria das vezes, os próximos são exatamente iguais aos anteriores, só com novos rostos e velhos hábitos.

Essa busca incessante por algo que brilhe mais nos deixa num estado constante de insatisfação. Porque, na tentativa de encontrar a pessoa "ideal", esquecemos que a idealidade talvez nunca venha pronta. Ela se constrói no dia a dia, nas pequenas paciências, nos ajustes, no aprendizado de quem o outro realmente é. E isso dá trabalho. Um trabalho que muita gente não quer mais fazer.

Claro, é confortável manter tudo na superfície. É seguro. Evita decepções, evita mágoas profundas. Mas será que esse conforto não é um tipo de vazio? Será que a falta de profundidade não nos deixa cada vez mais solitários, mesmo cercados de novas conexões? Eu me pergunto isso cada vez que vejo as relações se desfazendo na mesma facilidade com que começaram.

No fim das contas, acho que a gente perdeu um pouco da capacidade de persistir. Não estou dizendo que precisamos ficar onde não somos felizes, mas talvez seja hora de questionar se essa felicidade não precisa de mais do que a primeira impressão, mais do que o sorriso perfeito da foto de perfil. Porque, enquanto a gente flutua de relação em relação, esquecemos que, às vezes, é preciso parar e mergulhar.

Marco Antônio Costa
Enviado por Marco Antônio Costa em 13/11/2024
Código do texto: T8196133
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