Frases edificantes

Gosto não se discute, não é? Quem falou? Sei lá! É que eu gosto de pensar em frases curiosas e edificantes. Coisa de quem não tem o que fazer. No caso, a carapuça me serve: basta sair à rua e já engreno na função. Gosto de reparar nas placas, tanto nas burocráticas e administrativas quanto nas informais, observo os muros, poesias afixadas nos postes, a publicidade, os sinais que a sociedade nos deixa pelo caminho. Minha tia, se fosse responsável pela cidade, como boa dona de casa diria: “repara não”, para se desculpar quanto a algum deslize ortográfico ou gramatical, uma poeirinha sobre a mesa da sala, um cisquinho debaixo do tapete. Deixa de conversa fiada e vamos às frases de hoje.

“Não jogue lixo no chão” é uma das minhas preferidas. Gente, precisa disso? Fôssemos um povo evoluído e civilizado nunca iríamos encontrar uma frase dessas por aí, dando sopa. Redundante, excessiva, irritante, completamente desnecessária, não concorda? Vamos jogar lixo onde? No chão é que não há de ser. Um absurdo. Será que tem alguém que ainda não sabe? Fazer uma placa dessas é jogar dinheiro público no lixo.

Frases motivacionais têm me deixado aborrecido, desmotivado. Vejam esta: “Acredite em si mesmo”. Ora, se eu não acredito, quem vai acreditar? Meu professor de lógica é que não vai ser. Minha tia não vale, ela é minha cupincha.

“Cada dia é um novo dia”, diz o cobrador do ônibus. Mal sabe o coitado que seus dias nessa função estão chegando ao fim. É o famoso “com os dias contados”. Também não vão longe o ascensorista do elevador da firma, o vendedor de guarda-chuva da esquina, o lanterninha do cinema e a datilógrafa que trabalha na loja de conserto de canetas — um duplo anacronismo. Não ouse dizer a um deles que “o futuro está logo ali” ou que “o futuro a Deus pertence”. Ainda se fosse um guarda de trânsito, um meteorologista ou um técnico em informática, vá lá!

Mas quem está mesmo com os dias contados sou eu, um pobre escritor. Somos tantos, quase um a cada esquina, mas nos faltam leitores. Cadê? Onde estão? Por onde andam que não compram livros? Daí minha incredulidade com frases do tipo: “A leitura dignifica o homem” ou “A leitura engrandece a alma”, esta última atribuída a Voltaire, ou será que foi Aristóteles quem disse? Beethoven? Madre Teresa de Calcutá? “Deixa pra lá, vamos em frente!” — esta é minha.

“Não pise na grama” é uma das mais instigantes e aporrinhadoras frases à disposição do público no mercado das frases prontas. Se não é pra pisar é pra comer? Só me faltava essa! Se eu for numa praça ou num parque e não puder caminhar na grama, passear descalço, sentar ou me deitar no gramado, melhor ficar em casa.

Triste o país que precisa de frases como essas!