Festa Açoriana em Laguna?
Quando abri o jornal da cidade onde resido, assustei-me com o título: 8° Açor e 2a Festa Açoriana. Pensei comigo. Como um jornal da Grande Florianópolis pode fazer propaganda de Festa de Laguna. Ledo engano, a festa era na cidade de São José. As cidades sedes dos outros Açor foram: Itajaí, Imaruí, Penha, Içara, Porto Belo e Garopaba. Pasmem, Laguna ainda não teve o privilégio de ser o patrocinador, ou seja, lá como quiserem chamar.
Saibam o que há nessa festa: serviços de gastronomia, exposições, mostras de vídeo, brinquedos e brincadeiras populares, estandes culturais, oficinas.
Concordo que, em Laguna se tenha a Semana Cultural com evidência para Anita Garibaldi, a heroína, mas não lembrarmos que fomos colonizados pelos portugueses; é uma ingratidão injustificável. Poderíamos copiar e, com a capacidade de nosso povo, multiplicarmos as atividades. Teríamos além de estandes culturais, escolha de rainha, convidaríamos um cantor de samba ou grupo de chorinho, e faríamos um grande baile.
Organizaríamos desfile com grupos folclóricos, instituições e contaríamos também com apoio de outros municípios vizinhos.
O almoço oferecido a todos os participantes seria de comida típica açoriana. Na refeição: camarões, lagostas, siris, caranguejos, tatuíras, ostras, berbigões, mariscos (percebes), lulas, polvos e vários tipos de peixe da região.
O camarão não precisaria vir de outros lugares, onde esse fruto do mar é pescado. Nossa terra, digo mar, fornece o melhor crustáceo do Estado, o famoso Camarão Laguna.
Além disso, os siris e mariscos seriam também fornecidos por nossa rica orla marítima.
Ofereceríamos receitas variadas: fritura de peixe, garoupa ao forno, tainha assada na brasa com escama, tainha grelhada, caldeirada de peixe, sopa de camarão, arroz temperado, bolinho de bacalhau. Isso só para citarmos algumas.
O nosso peixe é de boa qualidade. A tainha, além de ser um meio de subsistência para a população do município, tem uma particularidade quase única. A pesca é feita com o auxílio dos botos, que tentam comê-las e acabam trazendo essa preciosidade para a margem da lagoa e os pescadores lançam as tarrafas e as puxam repletas.
Importaríamos da Ilha dos Açores, queijo, morcela, alcatra da Ilha Terceira, alheira de Santa Maria.
Turistas ficam abismados, filmam e fotografam a pesca com ajuda de botos, algo maravilhoso. Peculiaridade quase única porque também é usado este artifício na Mauritânia, África do Sul e na costa da Austrália.
Ainda faríamos concurso de prato mais gostoso, restritos às donas de casa, não podendo participar pessoas ligadas a restaurantes.
O café matutino e vespertino seria à base de quitutes e doces da culinária açoriana. No café seriam servidos cuscuz, biju, torta “Semana Santa”, melaço, rosca de polvilho, bolo de milho e outras guloseimas.
Como sobremesa ofereceríamos Malassadas dos Açores, Queijadas da Vila, da Dona Amélia, da Graciosa.
Haveria encontro de bandeiras e folias do Divino Espírito Santo.
Não poderíamos nos esquecer da grande missa festiva.
Na lusofonia seriam cantadas rodas de samba e músicas de umbanda. Haveria dança de capoeira, de marrabenta e seria cantado o fado.
Seriam lembrados também outros povos de língua portuguesa além do açoriano, como os de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique.
Em pequenos canteiros seriam mostrados os cultivos de batata, mandioca, amendoim, milho, feijão, pimenta, gergelim, castanha do caju, coqueiro.
Por onde o turista passar, encontra história em todas as ruelas do centro histórico de Laguna. Para isso guias turísticos da cidade comandariam pequenos grupos e mostrariam, fornecendo as devidas explicações históricas dos pontos turísticos.
O Marco de Tordesilhas é um símbolo de um tratado assinado entre Espanha e Portugal. Com o acordo, as terras situadas até 370 léguas a leste de Cabo Verde pertenciam a Portugal, e as terras a oeste dessa linha pertenciam à Espanha. Esse marco mostra a passagem de uma linha divisória imaginária que vai de Belém no Pará, ao norte do Brasil e Laguna, Santa Catarina ao sul.
A Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos foi construída pelo fundador Domingos de Brito Peixoto. Seus restos mortais estão enterrados na capela-mor. A imagem, esculpida na Bahia, em cedro, é até hoje venerada, principalmente pelas moças solteiras, pois o mesmo é conhecido como “santo casamenteiro”. Muitas obras de arte adornam os altares da Igreja Matriz, como a famosa obra do pintor catarinense Victor Meirelles, Imaculada Conceição - “La Madonna”. Foi, nessa igreja que Anita Garibaldi, com quatorze anos somente, se casou com Manoel, o sapateiro.
A Casa Pinto D’Ulisséa é uma réplica de uma quinta portuguesa, totalmente revestida com azulejos importados de Portugal. Uma casa de muito luxo para a época.
Será mostrada aos curiosos turistas a Casa de Anita, restaurada na década de 70 e transformada em relicário histórico. Ali, Anita vestiu-se para casar a primeira vez. Contém uma urna com terra da sepultura de Anita Garibaldi, do cemitério de Ravena, Itália.
Todos serão convidados a beber água da Carioca. Segundo historiadores foi a água dessa fonte, que nasce da terra, que motivou a localização da cidade por seu fundador. A Fonte da Carioca foi construída em 1863 e, restaurada em 1990. Até hoje a população se abastece desta água para beber. Seus tanques, revestidos de mármore de Carrara deixam a água fresca, gelada e saborosa.
O Museu Anita Garibaldi, no século 18, passou a ser a Casa da Câmara e Cadeia. Pode ser o último a ser visitado, assim como o primeiro, dependendo da curiosidade de cada grupo. Nesta edificação foi proclamada a República Catarinense, em 1839. A partir de 1949, o casarão passou a ser um museu.
Os pontos turísticos mais distantes do centro seriam apresentados no dia seguinte, em caravanas que se locomoveriam até os locais em micro-ônibus fornecidos pela prefeitura.
A Pedra do Frade, localizada na extremidade da Praia do Gi, desafia a lei da gravidade ao sustentar-se sobre uma superfície inclinada. Essa formação rochosa de nove metros de altura e cinco metros de diâmetro recebeu o nome pela semelhança com um padre franciscano. A história mais conhecida sobre essa pedra aponta-a como o marco inicial do Tratado de Tordesilhas. Há ainda a tese dos espiritualistas, que afirmam haver ali presença extraterrestre. Quem visita o lugar abraça a Pedra do Frade, consegue sentir uma energia fora do normal.
Do mirante no alto do Morro da Glória os expectadores terão uma vista panorâmica das praias e da cidade. Ela, a santa, está no ponto mais alto da vila, de braços abertos. As graças alcançadas pelos fiéis são muitas, basta ver as placas de agradecimento em seu pedestal. A imagem da santa tem 8 metros de altura, o pedestal 14 metros, com dimensões entre os braços de quase 5 metros.
O Farol de Santa Marta talvez seja a maior atração turística de Laguna. Ele atrai milhares de turistas por suas belas paisagens cercadas por praias, com as melhores ondas do país, atraindo os praticantes do surf e do sandboard (surf na areia). Considerado o maior das Américas e o terceiro do mundo em alcance, está distante 17 km do centro da cidade.
Ia esquecendo que na Festa Açoriana de São José houve a participação de 27 municípios catarinenses litorâneos, dentre eles Araranguá, Biguaçu, Capivari de Baixo, Criciúma, Imbituba.
Talvez eu me engane e a prefeitura através da Secretaria de Turismo, Lazer e Comunicação já esteja pensando em organizar e eu passei batido. Logo, logo ouviremos a varina (vendedora de peixe) berrar: “Vai ter festa açoriana em nossa terra”.
Aroldo Arão de Medeiros
30/05/2017