A Solitude da Praia
Toda manhã, ao abrir a janela, a primeira coisa que sentia era o som inconfundível das ondas quebrando suavemente na areia. A vista era a mesma de sempre: o movimento constante de pessoas, algumas caminhando na orla, outras se preparando para as festas que aconteciam ao longo da praia. Era um lugar onde as pessoas se sentiam livres o suficiente para se despir de convenções, a praia sendo palco de uma prática natural para os moradores: andar nus, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Para quem vivia ali, aquilo fazia parte da rotina; uma tradição que se passava de geração em geração.
No começo, os turistas ficavam desconcertados, alguns viravam o rosto, outros murmuravam sobre o comportamento "desajustado" das pessoas locais. Mas, para nós, era normal. Como morador, no princípio também estranhei. No entanto, com o tempo, aprendi a apreciar esse modo de vida, onde o corpo não era fonte de vergonha, mas de aceitação. A cidade tinha algo único, algo que se impunha silenciosamente, como as ondas que nunca cessam.
Eu me acostumei, e hoje, com o tempo, passei a valorizar ainda mais a solidão que a praia me oferecia. Não era um tipo de solidão amarga, mas aquela que permite ao espírito se reconectar com si mesmo, uma solidão de paz. Gosto de trabalhar sozinho, de não precisar de muito para estar em sintonia com o que faço. A areia, o mar e o vento tornam-se a minha companhia. Não preciso de mais.
Meus filhos, sempre tão cheios de energia, vinham me visitar de vez em quando. Eles adoravam a agitação da cidade, as baladas que surgiam à noite, o cheiro de churrasco no ar, as risadas ao redor das mesas. Era bom vê-los se divertindo, mas, ao mesmo tempo, me fazia apreciar a calmaria dos meus próprios dias. Meu neto, mais novo, passava horas na piscina, com os olhos brilhando de diversão. Ele era o reflexo de uma juventude que eu já não tinha, mas que ainda podia ver se manifestando nele.
Por isso, nos meus dias sozinhos, sentia-me grato. A solidão aqui não era silêncio vazio, mas um espaço onde minha mente podia se expandir, refletir e se regenerar. E, ao contrário do que muitos poderiam pensar, esses momentos eram essenciais para minha saúde mental, como um recarregar das energias que só a paz interior poderia proporcionar.
Dra. Gabriella Oliveira [2024] _ Todos os direitos autorais reservados