TUDO VERDE PARA O MOSQUITO DA AMARELA
“Se eu fosse você tomava a vacina” (Carlos, trinta e poucos anos, motorista de ônibus)
Lúcio Alves de Barros
Como dizem alguns amigos seria bom escrever que está “tudo azul”. Mas nesse país, no qual ser humano é tratado como animal e a banalidade da vida é norma, não é bom esperar muito azul, a não ser o do céu e, obviamente, em algumas estações.
Entretanto, seguindo a sucessão de enredos deste grande circo, vemos que o escândalo da vez é a famigerada “febre amarela” que, guardadas as devidas proporções e possibilidades, pode levar homens e mulheres (adultos e crianças) a ver a coisa meio amarelada e depois sem nenhuma cor debaixo da terra. Como se sabe, já passam de 15 as mortes por causa do famoso pernilongo, o conhecido mosquito Aedes aegipty. Curioso, mas doenças que há muito já não apareciam com tanta força retornaram para uma porca visita. E essa mata, talvez mais do que o leite de outrora, ou a raiva que nos causou a máfia dos mensalões e o caso do Renan.
Não podemos, contudo, somente culpar a acirrada destruição do meio-ambiente e do pouco caso que as pessoas tem com a higiene doméstica. O caso é mais sério e vou novamente afirmar que o “asno” "da hora" novamente é o governo (o do Rio de Janeiro não tem nem como falar, já é caso perdido). Desculpem meus poucos leitores, mas nossa política de saúde, tal como a de segurança, de aviação e educação sempre foi capenga. Em 2001 tivemos uma onda de dengue e de alguns casos de febre amarela e, felizmente, eles foram controlados. Agora vamos ver.
Não tenho nenhuma dúvida que as autoridades estão trabalhando para barrar o avanço e a intensidade dos potentes vôos do mosquito Aedes aegipty. Novamente atua-se nas conseqüências e não na prevenção. O problema não é pequeno tal como vem apregoando os meios de comunicação. Não seria bom ficar sem a vacina. Eu mesmo ainda não vacinei e ando com medo de qualquer mosquito, até os caseiros.
Também não confio nas agências de saúde governamentais. Como o período é eleitoreiro, é claro que tais instituições andam cheias de cargos de confiança. Gente de partido, cuja maioria não entende nem mesmo de dor de cabeça, o que pensar da febre amarela ou da dengue. Respeito àqueles que acreditam, mas se tenho como evidência a Agência Nacional de Aviação e mais de cinco mortes, fica difícil qualquer discussão.
Vamos torcer. Tenho uma idéia: orar ou mesmo rezar, escolha sua opção e pediremos a Deus para que o mosquito Aedes aegipty tenha calma. Muita calma nessa hora e abra uma negociação. A proposta é que ele chupe o sangue daqueles mais ricos (poupe as crianças e os adolescentes), dos mais seguros e que possuem planos de saúde. Vamos pedir para que o mosquito seja democrático e distribua o vírus de acordo com o capital econômico, político e social. Que Deus abra os olhos dele e que o danado acerte as pessoas que tem mais e não os que sequer sabem de sua existência. Estas já sofrem com ratos, esgotos a céu aberto, balas perdidas, falta de justiça, segurança, educação e por aí vai. Peçamos para que o Aedes aegipty tenha forças e procure as mansões, os apartamentos luxuosos das capitais, boas casas, corpos bonitos, com saúde e visite somente os grandes condomínios fortificados no intuito de evitar ladrões. Deixe a pobreza de lado. Eles já têm muito do que se preocupar.
É óbvio que a negociação com o mosquito será difícil. Em um país no qual a distribuição de renda é brincadeira e as pessoas se tratam como animais, é claro que temos grande chance de não conseguir tampouco conversar com ele sem tomar umas chupadas. Mas, até que o governo organize a distribuição das vacinas. Até que as autoridades realmente levem a efeito a vacinação em massa e até que as Agências de saúde colecionem mais corpos é mais fácil esperar o mosquito falar e negociar com a gente.
Lúcio Alves de Barros (mestre e doutor em sociologia pela UFMG)
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A FEBRE AMARELA
- É uma doença infecciosa transmitida por mosquitos contaminados por um flavivirus.
- Pode ser adquirida em áreas urbanas, silvestres e rurais.
- O mosquito pica uma pessoa infectada e, em seguida, pica uma sadia.
- A doença é transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti.
- O Aedes aegypti se alimenta de sangue (humano e de animais).
- O Aedes aegypti prolifera em águas limpas.
- O mosquito pode estar em casa, em recipientes que contenham água limpa: plantas, caixas d'água, cisternas, latas, pneus, cacos de vidro, etc.
SINTOMAS
- febre alta,
- mal-estar,
- dor de cabeça,
- dor muscular muito forte,
- cansaço,
- calafrios,
- vômito e diarréia.
PREVENÇÃO
- Campanhas de vacinação
- Cobrança sistemática do governo em prol de vacinação em massa
- Informação rápida da população sobre a ocorrência da doença e como evitá-la.
- Controle e morte do Aedes aegypti.
- Vacinação em massa da população
- Erradicação dos locais de reprodução dos mosquitos transmissores
- Uso de redes, repelentes ou spray protetor.