Declaração de Gratidão a São Paulo

Chega-se a um determinado momento do viver, quando se toma consciência do término da existência neste plano físico denso, de exageros em beleza, em cores e em formas, que dançam ao som de ritmos e melodias, não percebidos pela audição humana.

A partir desse momento, de clara percepção do fim, por aqui, se é tomado por espécie de urgência às expressões de gratidão. É como se essa percepção causasse aflição, por partida, sem expressar gratidão àquilo e àqueles que tornaram o viver, melhor e mais feliz.

Não! Não se pode partir sem antes expressar gratidão ao amor definitivo, aos filhos, netos, genros, noras, pais, avôs, irmãos, tias, primos, professores, mestres, amigos, amores, autores... Gratidão à terra em que surgimos no ventre materno, à terra em que nascemos, às terras em que vivemos e às terras visitadas, cujos breves encontros, encantaram intensamente.

Já passou da hora de agradecer a São Paulo, onde, também, não muito distante do Museu Ipiranga, se deu minha independência, numa montadora de automóveis. Foi num treinamento com estágios em todas as áreas da empresa, no km 23 da Anchieta, o encontro com o que gostaria de fazer, a atividade profissional definitiva. Além disso, onde se deu, o que estava escrito nas estrelas: o encontro de o amor definitivo. Obrigado São Paulo.

Obrigado pelo trabalho na empresa, onde aprendi a fazer o que descobrira ser com gosto e, ao mesmo tempo, livrar-me do desconforto de trabalhar em empresa, cujo produto final, o automóvel, ao invés de me dar orgulho, me trazia desconforto. Automóvel, meio de transporte que cicatrizou a amada Pauliceia, com a construção de viadutos, além de ser uma das grandes causas de imensos congestionamentos e poluição.

Obrigado São Paulo, por teres me proporcionado tanta satisfação e orgulho, pelo produto da empresa em que mais tempo trabalhei, nos 12 anos em que me acolheste: serviço de transporte metroviário.

Obrigado por tua Estação da Luz, onde aos sábados e domingos, com gostosa ansiedade e ritmo acelerado do coração, aguardava o amor definitivo surgir. De um dos carros da linha Santo André-São Paulo, com a beleza duma aurora, para o namoro ansiado durante os dias de trabalho da semana.

Obrigado ao Dr. Antônio Sapienza, psicanalista de espaço terapêutico na Alameda Santos, que orientava a compreensão, aceitação de dificuldades, que complicavam o viver.

Obrigado ao Paulo, corretor da imobiliária “Anibal Nascimento” que, percebendo minha grande insegurança, expressa na demora e incerteza para assinar o contrato de compra e venda, simulou rasga-lo e, dessa forma criativa, encorajou-me a assinar.

Obrigado por teu cartório no Brooklin, por tua igreja de São Judas Tadeu e o padre José Antônio, que formalizaram e celebraram a união com o amor definitivo, determinada há muito pelas Leis, que a tudo e a todos regem.

Obrigado por tua maternidade na Frei Caneca e por um de teus obstetras, Dr. Wolfgang, que dirigiu a peça protagonizada por uma única estrela, o amor definitivo: “Dar a Luz” e encenada duas únicas vezes. Obrigada Pauliceia amada pelos dois momentos de maior e mais intensa mistura de sublimes emoções, os mais felizes de meu viver.

Gratidão sem moderação a ti, “Pauliceia Desvairada”, por teres remunerado tão bem meu trabalho, tornando possível casar, já com o sobradinho geminado, no Jabaquara, junto, naqueles tempos, ao córrego da Traição, hoje Avenida Bandeirantes. Além disso, possibilitou poupança significativa, que garante hoje o viver com plano de saúde, suplementando a insuficiente e nanica, aposentadoria do INSS.

Muito obrigado São Paulo por teres proporcionado a construção de três grandes amizades: um imigrante paraibano e que se negava a ter um outro time em São Paulo. Fidelidade irrestrita ao Campinense, time vitorioso da Paraíba. O outro, também imigrante, mas de outro município paulista, Barretos e são-paulino. E o terceiro paulistano raiz, nascido no Alto Pari e corintiano.

Como poderia morrer sem te gradecer, São Paulo, por teres me apresentado àquele que seria o terceiro (em ordem cronológica) time, o Palmeiras, o Verdão, e os espetáculos proporcionados por Valdir de Morais, os dois Djalma (Santos e Dias), Procópio, Ferrari, Dudu, Ademir da Guia, Julinho Botelho, Servílio e Tupãzinho, na arena Pacaembu, teu espaço mágico e símbolo de teu futebol. Como não te agradecer, antes do apito final, da peleja nessa vida, por teres me permitido assistir ao vivo, nesse mesmo Pacaembu, Pelé e sua corte.

São Paulo! Por teres sido: mestra, cupido; reeducadora e iniciadora de o processo de autoconhecimento; conselheira vocacional, formadora de a atividade profissional; promotora na formação de patrimônio material e afetivo, palco dos três momentos mais felizes de meu viver. Enfim, meu eldorado, as margens do Ipiranga de meu grito. Obrigado Pauliceia amada.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 11/11/2024
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