A GENTE SE ACOSTUMA COM TUDO
Nos acostumamos com a aspereza do olhar, com a aridez do sorriso,
com o calar do querer-bem.
Nos acostumamos com os gritos da saudade, com os trancos da verdade,
com o descompasso na compreensão.
Nos acostumamos com os tropeços nos sonhos, com os rasgos do perdão,
com o rugir do sofrimento.
Nos acostumamos com as rebarbas do medo,
com o silêncio da compaixão, com os encardidos nos desejos.
Nos acostumamos com a nudez da fé, com as derrapadas na gratidão,
com os desatinos da tristeza.
Nos acostumamos com os grunhidos do remorso, com a rouquidão da
esperança, com a ferrugem da paixão.