A PAZ É FLUÍDA
O som estridente e fragoroso de uma furadeira nalgum apartamento do bloco onde moro me interrompe o fluxo dos pensamentos, assusta e irrita. Infelizmente, quem vive em condomínio residencial está sujeito a esses reveses e tantos outros incômodos difíceis de engolir. Em pleno sábado!
Ponho as mãos nos ouvidos procurando em vão esquecer o barulho, fecho duas ou três portas na tentativa de distanciar a zoada, de nada adianta, só faz abafar sua intermitência, então aturdido corro e escancaro a janela, mas sou perseguido por ele. Não tem como evitar, o som é ensurdecedor, se permaneço no conforto do lar é impossível a tranquilidade, se desço ao pátio piora ou equivale. Porque bicicletas, bolas, cachorros e gritaria efusiva ziguezagueando em derredor atrapalham a paz. Sem saída.
Cadê o sossego do fim de semana? Quem planejou ler, conversar, meditar, assistir à televisão ou simplesmente cavalgar no silêncio enquanto espera o tempo passar, decepcionou-se. O pior do estrondo barulhento no bloco de apartamentos é o inesperado, pois nunca sabemos quando pode irromper nem o quanto vai durar. A ansiedade toma conta da alma.
Qualquer um se enerva e entra em fúria nesses momentos. E agora, tem solução? Apenas uma: ir até a garagem, ligar o carro e sair por aí sem rumo, regressando somente depois que imaginar já ter sido concluído o serviço do vizinho, quem quer que seja ele. Tais ocorrências insistem em se dá justamente nos fins de semana, parece trama diabólica de insanos. Fecho os olhos, as mãos na cabeça, logo um pensamento indizível me percorre a mente. Não, melhor não, a liberdade vale mais a pena. A consciência imaculada também, é mero desabafo o que me vai no coração, deixa quieto.