PASSANDO O BASTÃO
Passar o bastão quando a finitude se aconchega é gesto sábio. Reconhecer que muitas coisas já cumpriram o seu papel e se aproxima a hora das cortinas baixarem de vez é doído e sacode todas raízes. Dá até pra tentar tapar o sol com a peneira, dando uma esticadinha aqui e outra ali, mas o inevitável não dá pra tapear e faz brotar rugas justas e benditas. Nessas horas, rever as pegadas pode ser gostoso ou amargo. Admitir que o tempo agora é vilão, vendo o relógio girar os ponteiros feito ventilador, traz nova dimensão para cada passo, cada respirar, cada sentir, cada ter. Diante da realidade, dura e cruel, só resta deixar a casa arrumada pensando nos que ficarem e torcer que cada lembrança cerzida esteja untada de carinho com a saborosa sensação de dever cumprido.