A Vida Após a Morte
Que me perdoem os religiosos, não creio em paraíso, reencarnação, ou outra vida depois da morte nas formas propagadas pelas poucas religiões que conheci. Gosto de pensar que a morte seja como naquele maravilhoso desenho "A vida é uma festa" em que as pessoas continuam vivas de alguma forma enquanto alguém se lembra delas. Só creio numa forma de vida póstuma, a memória preservada pela escrita.
Há muitos motivos pelos quais escrevemos, o meu principal é que é minha terapia, uma conversa comigo mesmo que por algum motivo decido dividir com outras pessoas, no caso você leitor, seja quem for. Agora, um outro motivo é criar uma chance de vida eterna, no sentido de que, enquanto o texto existir, sempre haverá a chance de alguém ler, lembrar de mim e minha ideia existir por algum tempo mais, seguir viva na imaginação dessa pessoa.
Pense a respeito. De que pessoas que morreram há muitos anos muitos se lembram? Quase todas são pessoas que tiveram ou seus livros publicados, ou histórias sobre elas contadas por outras pessoas, e em algum momento escritas. A pessoa mais famosa da humanidade, Jesus Cristo, só foi e será conhecida por séculos por sua história, na Bíblia. Personagens anteriores a ele, como Ramsés, Júlio Cesar, Cleópatra, Aristóteles ou outros, só sabemos deles pela maravilhosa arte da escrita.
As pessoas se tornam conhecidas pelas histórias escritas. Para o mal, nosso mundo seria muito diferente se um obscuro austríaco pintor de paredes não tivesse escrito na prisão a obra "Mein Kempf - Minha Luta", que trouxeram as infames ideias de Adolf Hitler, do nazismo e suas consequências. Para o bem, nada saberíamos de muitos conceitos de liberdade que hoje permitem um mundo melhor se Rousseau não tivesse inscrito em 1762 sua obra "O Contrato Social".
Ao escrever um texto, nunca se sabe qual será seu destino, se será lido, lido e lembrado, esquecido ou imortalizado em Academias de Letras. Todo escritor tem um sonho, o de tocar pessoas com suas ideias e quem sabe ser um dia imortalizado por ele.
Há um quê de narcisismo nessa pretensão, porém, acho que das coisas pelas quais alguém pode ser lembrado, ter escrito uma grande obra é um dos mais nobres. Menos pretensioso, ter escrito algo que fez bem a alguém querido já é muito bom. Sorte para nós, que ao aqui escrevermos, ou lermos uns aos outros damos vida aos nossos sonhos
que moldam o mundo, se não o de todos, ao menos o de cada um de nós!