E Nós? Onde Estamos e Para Onde Vamos?

Eric do Vale

Ocorreu, informalmente, um debate em uma rede social, devido a uma fotografia, tirada durante uma cena de novela, onde dois atores trocavam olhares. Deixando a entender que, naquele momento, existia um clima romântico entre ambos.

No período em que essa novela foi produzida, a Censura Federal ainda vigorava, aqui no Brasil, razão pela qual alguém fez a seguinte observação: "Como é bom evoluirmos para uma sociedade mais tolerante, deixando cada um viver a sua vida, de acordo com a sua orientação".

Nesse momento, uma pessoa, perguntou, mencionando o meu nome: "Quem seria a fêmea?". Manifestei-me dizendo que ninguém tinha o direito de especular coisa alguma e, tão pouco, criticar quem quer que fosse. Aproveitando o ensejo, observei que esses dois atores, num hiato de cinco anos, tiveram as suas vidas bruscamente interrompidas, em virtude do vírus HIV.

Essa mesma pessoa, então, falou: "Em uma relação gay, alguém sempre assume a função de homem e de mulher; ou então, o troca básico.". Antes que eu tivesse tempo de considerar tal comentário um grande absurdo, ainda veio com essa: "Não se cuidaram, pois, na época, todos sabiam que pegava. Morreram, porque quiseram".

É certo que vivemos em uma democracia, onde todos têm o direito de manifestar o seu pensamento, conforme encontra-se previsto no artigo 5° da Constituição Federal. Entretanto, é inaceitável alguém apresentar um comentário cuja finalidade é denegrir a dignidade de outrem. Especialmente, em se tratando de duas pessoas que já não estão mais entre nós para se defenderem. Além disso, a dignidade da pessoa humana, de acordo com o inciso III do artigo 1° da Constituição Federal, é um dos pilares para a construção da República Federativa do Brasil.

Recordo-me, agora, de uma ocasião, onde a diretora do colégio, onde eu estudava, falou perante os alunos que jamais ajudaria um soropositivo, sabendo que esse viveu feito um animal. Muito me surpreendeu que essas palavras tenham sido proferidas por uma educadora (professora de biologia) e que também era enfermeira. Ela, melhor do que ninguém, deveria saber que nem todos aqueles que foram infectados por esse vírus era advindos de uma vida desregrada. Logo, ninguém estaria isento disso.

Ao fazer um paralelo desses dois acontecimentos, encontro-me, agora, parafraseando

Carlos Drummond de Andrade, procurando saber se, de fato, a vida parou ou, realmente, foi o mundo que retrocedeu?