A HIPOCRISIA DE TODOS NÓS

Em um país onde a política é um dos muitos temas que alimentam discussões acaloradas, surge, quase como um mantra, a condenação a figuras proeminentes, entre elas o ex-presidente Lula. Para muitos, ele é o símbolo de tudo o que está errado. Contudo, ao olharmos mais de perto, nos deparamos com um espelho que reflete não apenas os erros de um líder, mas também as falhas de uma sociedade inteira.

É curioso como aqueles que apontam o dedo, muitas vezes fazem parte de um mesmo sistema podre que critica. A venda de votos, por exemplo, é uma prática que parece ter se tornado uma tradição. Eleitores que, em busca de um trocado, abrem mão de seus direitos e de seu futuro. E quando a eleição chega, não são apenas os candidatos que se corrompem; os eleitores também se tornam protagonistas de uma tragédia que se repete.

Por outro lado, temos os candidatos que, em sua ânsia por poder, compram votos, negociam empregos e fazem promessas vazias. A política, em sua essência, deveria ser um pacto de confiança entre o povo e seus representantes. No entanto, muitos preferem seguir o caminho da manipulação, ameaçando quem não se alinha com suas ideias. O jogo se torna uma dança macabra onde a ética é a primeira a sair de cena.

E enquanto isso, a idolatria por figuras como Bolsonaro ressoa em muitos corações. Entretanto, essa devoção não é isenta de contradições. O mesmo povo que clama por moralidade se entrega ao "jeitinho brasileiro", aquele que fura filas, dá carteirada nas blitz e, em festas, exibe um comportamento que contradiz os valores que tanto defende. "Farinha pouca, meu pirão primeiro" é o lema que, de forma sorrateira, permeia as relações sociais, onde o interesse próprio se sobrepõe ao coletivo.

A hipocrisia se torna, assim, uma constante em nossa sociedade. Ser puxa-saco de primeira qualidade é uma arte que poucos reconhecem como errada. No fundo, todos querem um pedaço do bolo, mas poucos estão dispostos a lutar por um banquete que seja justo e igualitário.

A reflexão, portanto, não deve ser apenas sobre Lula ou qualquer outro político. Precisamos olhar para nossas próprias ações e comportamentos, questionando até que ponto somos cúmplices de uma prática que condenamos. A verdadeira mudança começa dentro de nós, ao reconhecermos que, talvez, sejamos mais parecidos com aqueles que criticamos do que gostaríamos de admitir.

E assim, entre condenações e idolatrias, entre promessas e práticas duvidosas, seguimos, celebrando a hipocrisia que nos une.