"INFLUÊNCIA SEM INFLUÊNCIA" Crônica de: Flávio Cavalcante
INFLUÊNCIA SEM INFLUÊNCIA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Assim, somos representados, num circo de palhaços de caras lisas e debochadas. No palco contemporâneo, os novos "influencers" parecem mais bonecos de ventríloquo do que líderes de pensamento. São, na prática, ídolos construídos não pelo valor de suas ideias, mas pelo ruído que fazem ao postar trivialidades. Alguém um dia descobre uma câmera, faz algo trivial, joga um filtro, coloca uma trilha sonora “engraçadinha”, e pronto: temos uma nova celebridade, ou ao menos alguém que, no ecossistema do algoritmo, tornou-se visível.
É curioso observar como essas figuras, que à primeira vista deveriam ser marginalizadas pela irrelevância de suas produções, rapidamente se tornam protagonistas do entretenimento digital. Mas não se engane: o palco que conquistaram nada mais é que o teatro dos bobos da corte, onde repetem suas graças para uma audiência ávida por "não-conteúdo". É uma performance que, ao invés de desafiar o pensamento, de instigar a mudança ou ao menos estimular um olhar crítico, reforça um ciclo vicioso de vazio, subestimando a nossa inteligência.
Em tempos passados, mesmo o bobo da corte tinha uma missão. Ele trazia à tona, em meio a suas palhaçadas, uma verdade crua, um comentário ácido sobre o rei ou o sistema. Hoje, os bobos modernos nada têm a dizer. Não fazem pensar; ao contrário, embalam-nos na anestesia da distração, acumulando "views" e seguidores como quem coleciona moedas de um jogo. E a plateia, aliviada por não ser desafiada, acha tudo muito engraçado, alimentando idiotices e dando ibope é conteúdos fúteis.
Mas o que isso nos diz, afinal? Fica evidente que não são eles, os influenciadores vazios, os verdadeiros culpados. Eles só estão onde estão porque, na sociedade atual, a profundidade deu lugar à leveza, à espuma, ao "engajamento". E, enquanto seguimos aplaudindo esse espetáculo desbotado, o país sofre com a falta de influência real.
Um país que se leva a sério deveria, antes de tudo, reconhecer a importância de um discurso cultural robusto, capaz de dar forma ao que somos. Precisamos de pessoas que dominem ideias, valores, histórias – vozes que nos lembrem de quem fomos e de quem podemos ser. Influência não deveria ser sinônimo de distração, mas de liderança, de cultura e de pensamento.
Se queremos ver alguma mudança verdadeira, devemos primeiro deixar de ser plateia dessas farsas e recusar a audiência ao vazio. Que tenhamos, enfim, vergonha na cara e coloquemos no palco quem tem algo a dizer.
Flávio Cavalcante