O QUE NÃO HÁ EM MIM - BVIW

Passo o pente pelo cabelo, olho no espelho meu eu gasto e ainda longe do fim. Suspiro. - Graças a Deus! Graças a Deus está longe do fim meu corpo, embora enferrujado, minha alma descuidada e aflita; com que cara será que ela me fita?

Preciso presentear-me. Tudo que penso em dar-me não combina com o que falta em meu rosto, tudo que em meus olhos brilha, passa longe do estético. Eu sou a filha que descombina com verbos domésticos, e meus dons artísticos não tem nada do que minha mãe sente falta em mim.

Seria possível lhe presentear com uma mudança de hábito? Muito tarde para isso. Tentava lhe explicar para que não esperasse de mim o que em mim não havia. Para encolher a ópera ouvi, para minha surpresa uma frase dos lábios da irmã:

- Ela nasceu em corpo errado.

E tão surpresa fiquei, que nem importei de nunca ter me dado o trabalho de interpretar-me assim. Afinal, sempre me senti tão confortável em meu corpo; nada a reclamar de quaisquer outras descombinações visíveis a fino ou grosso modo.

Voltando ao que interessa, como presentear-me? Como presentear a mãe com meus dons nada tradicionais? Por sorte ela se contenta sempre que tem minha presença. Acostumou-se ao que não há em mim.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 06/11/2024
Reeditado em 06/11/2024
Código do texto: T8190849
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