O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER?
O que queria ser quando crescesse? De repente, me vejo aqui, crescido, barrigudo, meio calvo, aposentado e com a resposta pronta na ponta da língua, assim é fácil, não é?
Então, quem nunca de nós um dia não fora perguntado o que queria ser quando crescer? Inclusive, o tema era tão abordado e estava em voga nos dourados anos 60, que teve o mote vinculado a um comercial que passava na televisão, em formato de desenho animado (em preto & branco) cujos personagens se exercitavam, um porquinho pulando cordas e um touro levantando uma barra com pesos. O touro pergunta ao gorducho suíno: — “O que você vai ser quando crescer?” O outro responde com toda ênfase: — “Salsicha, ué, mas do Frigor Eder”. Esse diálogo entre os dois marcou gerações, tanto que hoje, após décadas, estou aqui revivendo e, acredito que muitos dos meus contemporâneos, ainda se lembram desse icônico “reclame”.
Explico porquê faço tal preâmbulo, naqueles tempos da infância e da adolescência, vivendo na periferia paulistana, os horizontes eram obscuros, as metas a serem alcançadas estavam além das condições das famílias. os horizontes. O primordial para os nossos pais era ir à escola para aprender a ler e a escrever, para depois abraçar o primeiro emprego que surgisse, e assim cooperar nas despesas da casa. O anseio por uma profissão graduada estava distante, não tínhamos informações acadêmicas para responder o que queríamos ser quando crescesse.
Nossas referencias eram as de pais trabalhadores, de valentes operários sobrevivendo heroicamente com parcos salários. Impossível imaginar que um filho daquela linhagem chegasse a doutor, que um dia alcançasse o título de advogado, de médico ou de engenheiro. Meu pai era gari na prefeitura de São Paulo, meus tios, um motorista de praça e outro marceneiro, meus vizinhos, pedreiro; motorista de caminhão; mecânico; barbeiro e outras atividades que se aprendiam na lida, tão somente. Vale ressaltar, todas atividades dignas.
Falo por mim sobre a minha escolha, não queria ser salsicha, queria trabalhar no rádio e na televisão pra fazer os “reclames”. Alguns anos depois, ainda cursando a antiga série ginasial, tive a oportunidade de trabalhar na empresa IAP (Industria Agro Pecuária) e entrar em contato com o apresentador Moraes Sarmento que tinha um programa na Rádio Tupi, patrocinado pelos Fertilizantes IAP (o fertilizante do pai). Era o responsável pela checagem da programação, pela entrega dos spots para veiculação e pelo pagamento do cachê do locutor.
Assim, o pequeno Tute se interessou pela atividade, entusiasmado com o que fazia no trabalho, conseguindo com muito afinco ingressar na graduação do curso de Comunicação Social. Vale uma ressalva, o primeiro dentre todos os familiares a cursar uma universidade. Uma coisa devo confessar, não no sentido pejorativo e sem faltar com o respeito, meu pai nunca entendeu a minha escolha profissional e o que de fato eu fazia. Sou graduado em publicidade e propaganda, profissionalmente atuei em diversas agências de publicidade. Enfim, acredito ter feito uma excelente escolha, virei publicitário antes que as condições precárias daquela época me transformassem em salsicha.