NÃO É PARA QUALQUER UM

Quando um homem fica só em virtude de separação, viuvez, abandono pela família ou outras circunstâncias é quase como se nascesse de novo. Se ele for das antigas então, tudo se torna ainda mais difícil. Prosseguir a vida sozinho exige executar atividades antes desconhecidas para ele ou nunca tentadas. Cozinhar, lavar e passar roupas, arrumar a casa, lavar, enxugar e guardar a louça, enfim uma gama de obrigações absolutamente desconhecidas mas necessárias, imprescindíveis mesmo, no cotidiano.

Para mim o mais aterrorizante foi passar roupas. O que vinha antes e depois disso dava para contornar, entretanto esquentar o ferro, colocar a roupa e ajeitar na tábua e mandar ver não foi nada mole. A primeira tentativa resultou nula, foi uma camisa. Ao invés de impecável ficou troncha, amassada, tosca. Olhei o monte restante à espera do meu trabalho e chorei. Que destino trágico!

Andei pelo apartamento às lágrimas, esmurrando as paredes, insultando os fatos acusadores daquela desdita. Quando ela ainda estava comigo nunca me deixou fazer nada, no máximo me permitia enxugar e guardar a louça. Eu deveria ter aprendido tudo, apesar de que jamais passava pelo meu coração a possibilidade de um dia ficar sem a companhia dela. Nem morte, nem separação, nem abandono. Esqueci nossa humanidade.

Nos primeiros dias passei as roupas de qualquer maneira, serviço sujo mesmo dada a minha desajeitada ignorância sobre o assunto. Em pouco cansei, chorava muito, me estressava bastante, sentia vontade de usar as vestimentas amassadas mesmo. Eu não sabia e nem queria aprender nunca a passar minha própria roupa. Sem chance! Para minha sorte, graças a Deus, soube que dias quadras próximas de onde eu morava havia uma pequena lavanderia, para onde então passei a levar as roupas lavadas para serem passadas. Desculpem o trocadilho infame, foi de propósito.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/11/2024
Reeditado em 03/11/2024
Código do texto: T8188728
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