O assassinato do galeto
Começou por diversão...correr atrás e assustar, simplesmente para causar um alvoroço entre as aves ainda jovens à procura de alimento. Era uma manhã de sábado, bem cedo e o sol acabara de raiar no horizonte. As aves calmamente ciscavam no gramado do quintal para satisfazer o desjejum. Eram importunadas de tempos em tempos por um cão negro, de patas brancas, que apesar de quase nada maior que elas, sentia-se superior, predador, no direito de persegui-las por prazer.
Com uma, no entanto, talvez porque pressentisse sua maior fragilidade, correu com o "sangue nos olhos"! Usou toda a sua velocidade e estratégias de caça para alcançá-la. Ela escapou uma vez, escapou mais uma vez dando uma guinada, mas já se notava o desespero e o cansaço, e sob um arbusto, infelizmente não resistiu e foi pega pelo pescoço...golpe fatal...a ave, ainda tão jovem, com tanto para ser vivido, agonizava...foi deixada no chão, porque o objetivo não era saciar a fome e sim os instintos selvagens...
A humana, tutora do cão, não conseguiu intervir a tempo e só o que pode fazer foi levar o galinho desfalecido para o caseiro dono da ave, com uma certa esperança de que ele faria manobras de ressuscitação e tudo acabaria bem! Mas a resposta foi simples, objetiva e muito serena: "Tudo bem, morreu!" E a tutora, desconcertada, pedia mil desculpas, com o drama comum de quem vive na cidade e não está acostumada com a serenidade dos sábios do campo que sabem viver em harmonia com as regras da natureza.
Um predador é um predador e uma presa, portanto, corre o risco da morte diante de seu "inimigo", e quando acontece, esse fato apenas faz parte dessas leis universais. Tanto é assim, que entre a comunidade galinácea, não houve drama, não houve isolamento da área para perícia, não houve tumulto e revolta entre os sobreviventes, nem vingadores prontos para aniquilar o "monstro preto e peludo" em nome da justiça. Simplesmente, após alguns minutos, outros galetos voltaram ao mesmo local para ciscar, tranquilamente, sem apetrechos para se defender, sem guarda-costas, sem demarcação de território e muros altos com alarmes. O predador continuou por lá, rondando, sob custódia da humana tutora, mas nenhum franguinho esboçava medo e ansiedade, uma vez que o cão não demonstrava mais intenção de persegui-los. A cena voltou ao que era antes, a vida seguiria em paz, até algum momento em que alguma lei da natureza teria que ser cumprida novamente, quebrando a ordem. E tudo bem, assim seria feito..! Amém!