O poção

A felicidade não tem preço, nem hora.

Escrever é uma arte fascinante que nos conduz aos mundos que abandonamos. Se não compartilharmos nossas aventuras com nossos familiares e amigos, elas provavelmente deixarão de existir. Sem dúvida, é um prejuízo irrecuperável. Precisamos contar e recontar nossas histórias, para que não permaneçam apenas na lembrança de quem as experimentou.

Certamente fui um jovem contente, desfrutei de todas as coisas boas que a juventude me ofereceu. Nasci e cresci numa cidade do interior, onde podíamos correr pelas ruas sem receio de sermos felizes. Não existiam tantos automóveis como atualmente e nem tanta maldade como se observa hoje. Não dispúnhamos de televisão nem de videogames. As nossas atividades recreativas aconteciam nas ruas, calçadas e até em alguns campos de futebol que construíamos ao capinar terrenos desocupados. Esses campos mudavam de lugar sempre que os donos dos terrenos edificavam suas residências. Quando isso acontecia, ficávamos literalmente arrasados.

O que vou compartilhar é um dos momentos mais gratificantes da minha juventude, quando tinha aproximadamente treze anos. Estávamos na época das chuvas, era inverno e chovia durante toda a semana. Ficávamos fechados em casa, sem ter o que fazer. Em uma dessas ocasiões, tive uma concepção inovadora. Propus a meu irmão mais velho uma traquinagem. Ele ficou indeciso, mas acabou agindo contra seu desejo. O que propus era um pouco extravagante para a nossa realidade. Ele avaliou como sendo arriscado. Não consigo lembrar quando essa ideia surgiu na minha mente. A realidade é que estavam abrindo um buraco perto da nossa casa. Era um trabalho aterrorizante para mim, algo que eu não conseguia encaixar em minha cabeça. Via o tal buraco como uma grande cratera, não tinha sequer a convicção de que aquilo seria alguma coisa que pudesse nos trazer um benefício. No domingo choveu bastante, uma chuva de granizo de grande intensidade. Indaguei a ele se estava pronto e, como respondeu afirmativamente, partimos juntos para examinar as condições do tal buraco. Ao chegar lá, ficamos surpresos, o barrocal estava completamente inundado, tal como havia previsto. Uma piscina genuína... Apenas barro!

Como estávamos atrasados para retornar, minha mãe solicitou que meu pai fosse nos buscar. Ele saiu pedalando pelos arredores até se deparar com os que estavam desaparecidos. Nadávamos descontraidamente de um lado para o outro, sempre sorridentes e contentes. Ao ver aquela cena, seu Zé exclamou: que espetáculo! Uma hora mais tarde, apareceu minha mãe espevitada.

Acredito que você, leitor, consiga imaginar o que aconteceu. Não vou revelar para não comprometer a minha narrativa. No entanto, posso lhe assegurar: nadamos os três sem receio ou medo de ser feliz.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 01/11/2024
Reeditado em 01/11/2024
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