EPIGENÉTICA

Durante a infância, ouvi muitas vezes dos meus pais a estranha certeza de que nossa família morria do coração, isto é, sofria enfarto quando envelhecia e partia para a eternidade. O consenso geral então era que todos nascidos de nossa árvore genealógica acabariam morrendo em virtude de problemas cardíacos, não escaparia ninguém. Estava no sangue. A premissa criada no ambiente familiar continuou sendo realçada cada vez que alguém falecia sempre da mesma causa. A predisposição genética nunca falhava, por isso eu estava ciente e convicto de que assim seria com todos nós.

Conformado com a pretensa vontade do destino, obriguei-me a varrer a inquietação sobre o assunto para o vão do esquecimento, pois de nada adiantava martelar a mente e me estressar pensando nisso. Seria indesejável sofrimento antecipado, nenhum bem traria. Deixei pra lá, entrei no faz de conta e segui em frente, iria viver os anos restantes da melhor forma possível. E saí de mãos dadas com a vida sem olhar para trás, sem me maltratar na correnteza das emoções temerosas.

Foi então que, certo dia, por acaso, vi o vídeo de um cientista dissertando acerca da epigenética e me interessei sobre a matéria. Procurei outras opiniões de renomados estudiosos, li muito com o objetivo de me inteirar bastante da questão e depois, já um pouco a par das descobertas do tema, senti alívio e alegria ao saber que meus últimos dias de existência na terra não dependiam exclusivamente da genética, somente do estilo de vida e hábitos alimentares abraçados.

Transformei o medo em esperança e esta, na certeza de que a maturidade dos meus dias, a qualidade de vida estava unicamente nas minhas mãos e cuidados pessoais. Bastava uma alimentação saudável, um ambiente feliz, exercícios físicos e zero estresse, pronto, o coração batendo em meu peito jamais me pregaria a súbita peça de inesperado enfarto ou aterrorizante avc. Em resumo, em termos compreensíveis e visando simplificar, essa é a epigenética, o oposto da genética, novo jeito de vislumbrar o maravilhoso horizonte a ser desenhado por nós mesmos.