Sol da Meia-Noite

Todos os dias vinham sendo escuros nos últimos tempos. Nada reconfortante, diga-se de passagem, um inverno gélido dentro da mente hiperativa que vos escreve no presente momento. Uma letargia dolorosa, impenetrável, que lhe consumia a energia por completo, resultando em longas tardes deitadas no berço de seu recanto, centenas de bitucas murchas nos cinzeiros, as marcas em seu corpo, seus pertences e sua arte.

O desespero na escuridão parece natural de princípio: o não-ver aterroriza. Acostumados com a visão, tememos perder a ancora de cores que nos preenche. Mas, eventualmente, se esquece o que é ver. O que são imagem, cores, figuras. Se esquece até de estar no escuro, esquecendo-se também da vida, oculta pelo breu, à seu redor.

Hoje, entretanto, o Sol nasceu. Vem nascendo tem um mês e pouco. Um sol vermelho, estridente, que amorna minha pele. Uma tempestade solar entrou em minha vida, e arrancou-me da escuridão. Isso sim assustou meus olhos recém acostumados com a luz. Os fez querer correr, mas aquela estrela iluminava cada canto. Se fosse embora, o escuro novamente seria aterrorizante. Se não se movesse, perderia a luz. Se corresse demais, alcançaria a escuridão.

Pois decido-me, por hoje, andar ao lado do sol. Andar à luz daquele que ilumina o escuro. Não sei até quando caminharei com a estrela, há beleza na noite, há beleza em diversas estrelas, mas por hora, acompanho o astro. Com cuidado, para não feri-lo nem queimar-me, mas com amor.

O amor estelar que me tirara da noite escura de minh’alma.

Ariel Alves
Enviado por Ariel Alves em 31/10/2024
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