Aquele Cafezinho
Todo dia minha rotina é praticamente a mesma. Levanto, um café rápido, preto, uma fatia de pão com margarina. Depois são quarenta e cinco minutos de ônibus até o trabalho. No inverno é pior, porque a maior parte do trajeto é feito enquanto ainda é escuro.
Bato o ponto um pouco antes das sete da manhã. Aí vou fazer o café, o que leva uns quinze minutos no máximo. Então gosto de ficar limpando a cozinha, vendo o pessoal começar a chegar. Além de limpar os banheiros, as mesas e a cozinha, sou responsável pelo cafezinho. E que gosto mais mesmo é de fazer o café.
O primeiro café da manhã é geralmente o melhor da máquina, mas pouca gente sabe disso, o pessoal aqui costuma chegar mais tarde. O seu DelaVega gosta de chegar cedo, geralmente ele me cumprimenta, não fala muito e sempre elogia o café. Acho que ele é Gremista, mas não gosta muito de futebol.
De uns tempos para cá ficou mais fácil porque compraram uma máquina nova, ela é grande e prateada. É um pouco mais complicada de operar mas guarda mais café, com isso tenho que fazer café menos vezes por dia agora.
Lá vem o seu Bolívar, com aquele andar engraçado. Ele não gosta de café. Não sei se as pessoas gostam dele aqui no escritório, ele sempre almoça sozinho. Bom, aposto que ajudaria se ele tivesse um sorriso no rosto de vez enquanto, e se cumprimentasse os outros também.
As pessoas não se dão conta do quanto é importante o café para o escritório. Ou o quanto ele diz sobre o ambiente. Por volta das dez da manhã quando o movimento é maior a gente fica sabendo das novidades. Quem vai ser promovido, quem vai ser demitido, até quem está dormindo com quem às vezes. Eu não faço parte da maioria das conversas, afinal eu sei o meu lugar, mas fico ouvindo, prestando atenção. Por isso estou sempre bem informado. Acho que se fosse dono da empresa iria reduzir o número de e-mails e aumentar a área do cafezinho, mandar colocar uma máquina de expresso, quem sabe que até aquelas que fazem capuccino. Tornaria a hora do café obrigatória, assim todo mundo iria saber das coisas importantes que estão acontecendo.
Ontem a máquina estragou, e quase tivemos um motim. Gente nervosa, gritando, nunca vi coisa parecida, são todos uns viciados em cafeína. Nos dias mais complicados, quando a gente vê o pessoal correndo pra lá e pra cá, chego a fazer seis ou sete máquinas, quando as coisas estão tranquila não passa de quatro.
Tem gente que vem pelo café, tem gente que vem pela conversa. Tem gente que toma café, e tem gente que não. Uns que gostam com açúcar, sem açúcar, com adoçante, tem uns que botam água, tem gente até que mistura no chá, já pensou?
Lá vem o seu Zambol para uma outra reunião. Ele fica me encarando um pouco com o olhar perdido. Parece que está preocupado com alguma coisa.
Baixo a cabeça e desvio o olhar, sei o meu lugar.
[]s
Jack DelaVega.
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