Crônica trivial

 

Os carros passam pela rua na tarde ensolarada e ventosa. Curto os observar pela janela da sala, sentado no sofá. Na verdade são as pessoas que passam, eis que os carros não possuem vontade, são meras máquinas à serviço da vontade das pessoas que os utilizam. Meras, não, admiráveis. Todas as máquinas o são. Maravilhas da engenhosidade e inteligência humanas, historicamente aperfeiçoadas. Evolui, a tecnologia.

 

Os carros passam e minhas costelas doem. Bati e caí de bicicleta. A bicicleta também é uma máquina, movida a pernas humanas. Os carros possuem motor, à combustível fóssil. Há tempos escrevia numa máquina de datilografia, hoje, num computador à eletricidade. Sei arrumar bicicletas e máquinas de datilografia, carros e computadores, necas. Antes assistia TV aberta, agora curto You Tube. Tem tudo lá, é só escolher o que se quer. E esse quase tem vontade, o tal de algoritmo. Um decifrador de vontades e desejos, melhor escrevendo. Na verdade, um xereta de curtidas, oferecendo água no deserto, cerveja no bar e o que tu curte na telinha. Um admirável xereta, diga-se. Coisa que gente criou. Controla ou está sob controle? Um carro está sempre sob controle, assim com a bicicleta, mas o algoritmo...

 

Os livros, ainda leio os de papel, não curto os virtuais. A luz do sol é mais convidativa, numa tarde ensolarada, do que a telinha. Só que o papel tá caro, pois vendemos a celulose e o importamos à Dólar e Euro. Descobri isso no Sarau Literário, o editores de livros disseram. Apesar disso, o Mendes lançou seu livro de poemas impresso, ontem. Fez um bolo dietético pra mim e ofereceu café Baggio sabor caramelo A D O R O. Um cara bem legal e gentil, o Mendes. Tinha bastante gente lá e foi muito tri. Mas bah, lá me dei conta que já passou o Sarau e começa a Feira do Livro! Logo logo é Natal, o Advento é dia 1 de dezembro. Fui num shopping dias desses, numa loja só de coisas de Natal, e namorei um trenzinho natalino. Uma máquina movida à pilha que representa uma outra, a original, movida à combustível fóssil, carvão. Se é que ainda tem algum desses por aí, né?

 

As pessoas continuam passando pela rua em seus carros, agora. O sol e o vento ainda animam a tarde de quarta-feira. Chegou alguém, estão chamando no portão. Vou lá ver quem é e o que quer. Boa tarde, gente, até amanhã.