Carla França: Santa Maria da Vitória e Quincas Berro D'Água.

Carla França: Santa Maria da Vitória e Quincas Berro D'Água.

Gozado, você vai me levando a revisitar pessoas.

Ontem, conversei com Joaquim Lisboa Neto

Você o conheceu.

Ia viajar para Santa Maria da Vitória, mais ou menos lá onde o vento faz a curva, e me perguntou se conhecia alguém lá.

Indiquei-o.

Um lugar perigoso.

Onde você chega e não quer mais sair.

Este, o perigo.

Por juntar histórias.

Histórias do povo.

De assombrações.

Monstros do Rio Corrente.

Carrancas do mestre Francisco Biquiba de La Fuente Guarany, o maior carranqueiro da história do Brasil.

As carrancas dele estão mundo afora.

E algumas ainda navegam naquelas águas mal assombradas, ou bem.

Sujeito viveu mais de cem anos.

Não passou desapercebido, não.

Mereceu até poema de Drummond, brinquedo não.

Terra de Clodomir Morais, homem de história pra mais de légua, braço direito de Francisco Julião, das Ligas Camponesas.

Por falar em Ligas Camponesas, terra de muita luta de posseiros.

Por lá, século passado, 1977, mataram Eugênio Lyra, advogado destemido, defensor dos trabalhadores rurais.

À luz do dia, o sangue dele se espalhou pelas ruas da cidade, assassinado por pistoleiros a mando de grileiros.

Fiz muito barulho na época.

Chefe de reportagem do Jornal da Bahia, mandei repórter pra lá.

Terra de Joaquim Lisboa Neto, Quincas.

Prefiro Quincas Berro D'Água.

Ele se parece muito com o dito.

Pelos tantos bares a frequentar dia e noite.

Quando, e se morrer, ele provavelmente terá o mesmo destino do personagem de Jorge Amado.

Só quem leu o livro saberá..

Montou a Biblioteca Campesina no século passado.

A maior biblioteca pública, não estatal, de todo o Oeste da Bahia.

Ainda ontem chegaram centenas de livros à Campesina, oriundas do acervo de José Carlos Zanetti, preciosidade.

De Santa Maria da Vitória passaria horas falando.

Aqui, hoje, vou dizer apenas: dei uma tarefa pra ele.

Deverá fazer um depoimento sobre a sua passagem pela cidade, falar dos contatos com ele, das conversas.

Vai fazer.

Disse, no entanto, não cumprir a tarefa sozinho.

Vai buscar a ajuda e inspiração de Angélica Rodrigues Oliveira, personagem forte da cidade, militante, com quem eu e você estivemos um dia, rapidamente, acho que levar alguma encomenda pra Quincas, não me recordo bem.

Mas, estivemos os dois com ela.

Será seguramente um depoimento precioso.

Você talvez nem tenha dimensão do tamanho das andanças feitas por essa Bahia afora.

Andou mais que notícia ruim.

E sempre pelas boas causas.

Quero honrar essa caminhada, meu amor.

#carlaminhapoesia