LEMBRANÇAS DE MEU TEMPO DE GURI- OS JUIZES DE DIREITO DE ROSÁRIO DO SUL

Nada mais estável, mais duradouro, mais perene, mais eterno que as lembranças que povoaram o tempo de nossa infância e de nossa juventude.

Quando eu tinha, em mil novecentos e sessenta, treze para quatorze minha familia morava em uma casa alugada na Avenida Canabarro em frente à Estação Ferroviária.

Eu ia de manhã para o Plácido de Castro e a tarde carregava areia nos vagões que o seu Negrito Argemi contratava e que encostavam junto aos grandes depósitos do pátio da viação férrea.

Quando não tinha serviço ficava, nas tardes sentado à sombra dos grandes cinamomos que existiam no meio da avenida e que nos deliciavam com as suas sombras.

E ali, sentado, com outros guris da minha idade, eu ficava olhando o movimento do Fórum que ficava na esquina e da Casa dos Juízes que ficava entre o fórum e loja do seu Guimarães.

Depois do expediente era comum ver o Juiz Titular da Comarca, sair casa acompanhado de sua esposa e dirigir-se, a pé para o centro da cidade.

Ao passar pela gurizada, que ao vê-lo ficava em completo silencio, sempre destinava um olhar e um cumprimento respeitoso e formal.

Essa atenção da autoridade máxima da cidade nos enchia de orgulho e, ao mesmo tempo, nos atribuía uma responsabilidade muito grande pela deferência que o cumprimento nos conferia.

Eu era fascinado por aqueles momentos e foram muitos os juízes que por ali passaram e nos cumprimentaram, de braços com suas esposas e, alguns, tendo pela mão os seus filhos.

A admiração e o respeito eram tão grandes que um dia levei o assunto para o meu professor de português- Dr. Augusto Brasil Carvalho- jovem e brilhante advogado que diante de minha admiração fez, datilografada e me entregou uma definição dos valores comportamentais de juiz, cujo teor tenho comigo, até hoje, e que me permito compartilhar para minha alegria e para conhecimento de meus sete ou oito leitores.

Eis o conteúdo que me foi dado, pelo caro e inesquecível professor:

Erner :

“A postura profissional e social de um juiz de direito, por ser um Magistrado, é de imparcialidade, ética, educação, responsabilidade e comprometimento com a justiça.

Um juiz deve agir e age, sempre, de forma isenta e imparcial, baseando suas decisões unicamente na lei e nas provas apresentadas em um processo, sem influência de interesses pessoais, políticos ou econômicos.

Além disso, um juiz deve ser ético em todas as suas decisões e condutas, respeitando os direitos e garantias fundamentais das partes envolvidas no processo.

Também é esperado que um juiz seja responsável, diligente e comprometido com a busca pela justiça e pela aplicação correta da lei.

Em resumo, a postura social de um juiz de direito deve refletir valores como justiça, imparcialidade, ética honra, respeito e responsabilidade.”

O Dr. Augusto deu a resposta que eu buscava e que passei para todos os amigos que se sentavam, comigo, à sombra dos cinamomos da Avenida Canabarro.

Agora, passados tantos anos guardo no mais fundo do meu coração a lembrança daqueles personagens singulares que povoaram a minha infância e a minha juventude.

Não me lembro de todos eles e nem de seus nomes, em razão disto, os homenageio na figura singular do Dr. Almengo Echeverría Medeiros que ,igual a eles, foi Juiz em Rosário do Sul e possuía os atributos elencados pelo Dr. Augusto.

E, agora me é impossível, não pensar que se eles -juízes de minha pequena cidade naquele tempo- eram possuidores destes atributos, como seriam, na mesma época, a postura, a atuação e o comportamento cheio de dignidade e merecedor de respeito dos desembargadores dos Tribunais de Justiça de meu estado, dos Juízes dos Tribunais Superiores de Justiça e dos Ministros do STF?

(Recanto da Ana e do Erner,30.10.24-Capão Novo)

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 30/10/2024
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