O Canto da Chuva e o Brado da Tempestade

A chuva sempre chega de mansinho, como se pedisse licença antes de tocar a terra. Primeiro, são só umas gotas que batem na janela, tímidas. Depois, o som vai crescendo, e tudo parece ficar em suspenso. As plantas se curvam, as folhas dançam, e o chão, sedento, absorve cada gota como um presente. Há uma paz na chuva leve, um ritmo que acalma, como uma canção repetida de mãe para filho.

Mas a tempestade é outra história. Ela chega sem aviso, um brado que irrompe no silêncio, acompanhada de ventos e trovões que fazem o céu ressoar. A luz parece fugir quando as nuvens escuras cobrem o sol, e, por um momento, o dia vira noite. A água, que antes caía suave, agora se lança como um rio dos céus, batendo nas telhas, escorrendo pelas ruas, formando correntezas que parecem vivas. Os trovões estalam, e o relâmpago corta o céu, como se revelasse, por um instante, as linhas da natureza em sua força.

Quem assiste a uma tempestade sabe que é um espetáculo da natureza, tão bonito quanto assustador. Há um poder bruto e indomável nela, que nos lembra de nossa pequenez e nos faz respeitar o que não podemos controlar. E, ainda assim, depois de seu auge, a tempestade também cede, e o mundo, aos poucos, volta a respirar.

No fim, tudo se acalma, e o ar, agora limpo e fresco, carrega aquele perfume da terra molhada. As plantas, lavadas pela chuva, parecem mais verdes, os pássaros saem de seus esconderijos, e um novo silêncio se instala — um silêncio de gratidão, como se a natureza agradecesse pela visita da água. E nós, em nosso canto, nos permitimos o mesmo: a chuva e a tempestade passam, mas a lição de renovação fica.

Helena Bernardes,

out,2024

Vovó Onça Contadora de Histórias
Enviado por Vovó Onça Contadora de Histórias em 29/10/2024
Reeditado em 30/10/2024
Código do texto: T8185066
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