Reencarnação

O Passado não existe a não ser em nossa memória.*

Não deu tempo, Irmão. Chegou a hora. Esperamos demais. Bora.

Pessoas vestidas de branco e descalças lado a lado num corredor branco e simples. Elas me veem passar. Acenam para mim. Sorriem. Boa sorte, Wellington Vinícius. Carpe vitem! Faça valer! Lembra-te do que prometeste aos teus Mestres... Honra a memória deles! Já está preparado! Anda! Vais conhecer um novo mundo! Meu coração palpita; não espera menos. Arrepios pelo corpo. Tremedeira danada. Quase pânico. ĆLK... Quase lá. Aplausos (fazem isso com todos os reencarnantes). Impossível evitar o choro. Me pediram para, ao reencarnar, não olhar para trás. Ando lentamente. O medo é enorme. A Reencarnação implica morrer antes, no mundo em que se vive, para poder renascer em outro. Me lembro de um trecho de "Bohemian Rhapsody" do Queen. Há um trecho em que ele fala que sua hora dele chegou e que arrepios correm por sua espinha.

Minha dupla metáfora é (d)escrita aqui. Estou de mudança. Saindo da casa onde morei com meus pais por mais de três décadas. Agora, já sem os dois, preciso deixar a casa. Está praticamente vazia. Apenas eu, algumas coisas e três animaizinhos de estimação (parte de minha família) que irão comigo para a outra casa. A metáfora não é à toa. Ela está calcada na descrição de um ritual simbólico de deixar para trás um mundo velho, escuro e triste (após a partida deles). Para renascer em outro mundo (um novo lar) e lá ser feliz em definitivo. Malgrado haja a figura de linguagem que substitua o discurso literal, minha tremedeira ainda continua. As lágrimas, os arrepios, as lembranças de Outra Vida nessa Vida. O que foi. O que fomos. O que poderíamos ter sido e feito – mas não o fomos nem fizemos. O porvir – nesse fim de tarde desse fim de outubro, com uma forte brisa noturna – não pode esperar. Eu devo recebê-lo. E espero (chego a sentir isso, mesmo que remotamente) poder receber mensagens de meus Mestres (Pais). Devo me mudar amanhã. E entregar as chaves no dia 31/10/2024. Simbolicamente no Halloween. (Será que lá eu também verei morcegos adentrando a "nova" morada?)

Nota

* Eu adoraria ouvir esse período na voz de Luiz Ricardo da Luz. Tal como ele fazia na intro de seu programa Fenômeno UFO, nos sábados à tarde, às 13h00, na Rádio Boa Nova AM (Guarulhos, SP).