Gosto pela vida!
Eu mal abrira os olhos, sentindo o calor do sol anunciando um belo dia de primavera!
O telefone tocou!...
Quem seria a esta hora da manhã?.. Na verdade não era tão cedo, mas eu não tinha costume de receber ligações pela manhã.
“Alô!”?
Uma voz enrolada, de alguém que não gosta, e tem pressa, de falar ao telefone, respondeu:
“Aqui é o Sebastião”
Eu conhecia aquele jeito enrolado de falar.
Seu Sebastião era o jardineiro. Pessoa simples, sem instrução, porem, de uma sabedoria de vida que deixaria muitos “doutores” precisando consultá-lo.
Pele escura e enrugada, os cabelos já grisalhos, tendo sempre um chapéu roto na cabeça, dava-lhe uma aparência envelhecida, maior do que a idade real. Tinha a postura daqueles que passaram à vida, curvados numa enxada. E como trabalhara!..Na mocidade, na roça, sempre ganhando miséria. Mesmo assim, criara os filhos de maneira integra; hoje homens de bem e já encaminhados na vida.
Agora aposentado, morava na cidade, mas não abandonava o trabalho e os hábitos antigos. Vinha de ônibus carregando lata com mudas de planta, facão, enxada, e outras ferramentas. Até saco de esterco se fosse preciso. Nada era difícil, ou pesado. Estava sempre disposto.
Certo dia, conversando sobre a morte de alguém, ele me diz: “Que pena que a gente não sabe quando vai morrer”.
Surpresa e curiosa com a observação, perguntei:
“Por que”?
“Porque poderia fazer uma festa de despedida”
Achei graça e concordei. Afinal, ele tinha certa razão.
Na sua simplicidade, adorava viajar, participar de excursão. Ia até onde o dinheiro o permitisse. Aproveitava, às vezes, o fato de já ter idade suficiente para não pagar a passagem de ônibus, embarcava e ia sozinho conhecer outras cidades. Nem o fato de ser analfabeto o preocupava.
Dizia ele com sua fala enrolada e simples, de pessoa do interior mineiro.
“Ocês não tem precisão de preocupa. Eu ponhei uma praquinha no peito com o nome da pousada onde eu to pousado, num vou me perder.”
As quintas-feiras ele chegava cedo para cuidar de meu jardim. Na hora de receber, sempre achava que o que lhe pagava era mais que suficiente e recusava algo a mais.
Eu admirava a alegria, a disposição, e a simplicidade daquele homem! Pensava comigo: eis aí uma espécie em extinção.
Agora, surpresa me perguntava, o que estaria ele querendo àquela hora da manha?
“O que houve?” perguntei.
“Foi meu irmão. Morreu! Enforcou-se com uma corda. Hoje às cinco horas. Não queria mais viver”.
Sem saber o que dizer, indaguei.
“Havia algum problema com os filhos, dinheiro, doença?”
“Não, só os de sempre.”
E concluiu: “Acho que ele não gostava da vida como eu.”.
Lisyt