CHICOTEANDO AS JANELAS
Hoje a natureza acordou agitada e espalhafatosa. Desde cedo o forte vento começou a chicotear o que está à sua frente, árvores, janelas, roupas no varal, tudo. De tão bravo e, ao que parece, revoltado, sopra assobiando enquanto sacode o ar por entre as frestas que encontra.
Talvez chova mais tarde, geralmente quando o vento é estrondoso, sem medida e extraordinário assim temos o prenúncio de grandes quedas d'água. Entretanto estamos no nordeste brasileiro, atípica região do semiárido onde as chuvas não vem facilmente, como se as nuvens secassem ao chegarem ao nosso espaço aéreo.
Pode ser também que o furor do vento seja meramente passageiro, um fenômeno simples sem qualquer conotação especial, as coisas naturais nem sempre são bem compreendidas por nós do povão. O fato é que torna-se necessário deixar tudo fechado dentro de casa para não ser derrubado ou destruído, tamanha a potência percebida lá fora.
O mais estranho foi ter o dia ontem parado, até mesmo sem o suspirar da mínima brisa. Nenhuma folha balançou nos galhos do arvoredo no quintal, e as janelas passaram a manhã toda escancaradas mendigando um ventinho. Mas somente o sol calcinante invadia os cômodos e secava o chão, aumentando sobremaneira o calor. Mormente à tarde. Já neste dia veio a vingança natural, dando a impressão de que o vento se acumulava mais e mais para descontar sua falta no dia anterior.
Prefiro algo mais moderado, sem extremos para mais ou para menos, que não atemorize nem crie qualquer expectativa ou possibilidade negativa. Ventania nunca é bem vinda, contento-me com a leveza das brisas. Agora vá dizer isso a ela, basta um tabefe do seu bafo para derrubar qualquer um. Deixa que assobie, sacuda as janelas, estremeça as árvores e afugente a passarada, decerto se não chover mais tarde virá a calmaria. Com uma doce brisa, espero.