Sobre medos e superações
Pois bem, caros leitores... Os relatos a seguir “contém cenas de situações fortes" portanto, se você é sensível e possui um ou mais "medos" como os aqui mencionados, vamos nos unir, dar as mãos e vencer esses obstáculos.
Um “medo” vencido há muito tempo mas, que me perseguiu durante certa época, lá em meados dos anos 2000, foi o medo de elevador. Sim, eu nascida, crescida na cidade grande, estudada mas, tinha medo de elevador. Não era um “medão” mas, me incomodava toda vez que eu precisava entrar em um prédio.
Certa vez eu estava indo em um escritório de contabilidade que ficava no nono andar. Imagine a tortura que seria. E não tinha jeito. Eu precisava ir. Uma mulher na época, com mais de vinte anos e, com medo de elevador?
E hoje percebo com mais clareza que, quanto mais a gente têm medo mais as coisas são propensas a acontecer. Parece um ímã!
E lá ia eu, do térreo para o nono andar, não sozinha, eu esperava o maior número de pessoas subirem para eu entrar. Então, ajeitava o cabelo no espelho do elevador pra demonstrar segurança, conferia as unhas se o esmalte estava descascando e... lá vamos nós!
De repente eu percebo o elevador esquisito, batendo, fazendo barulhos não comuns a um elevador. O que seria? Será que só eu estava escutando aquilo? Porque eu olhava o semblante das pessoas e elas pareciam normais. Algumas conversando, sorrindo, outras pareciam até cochilar de tão relaxadas. Mas eu estava ouvindo!
A pior coisa que fiz foi soltar a frase: “ Pessoal, acho que esse elevador não tá bom, não.” Pra que eu fui falar isso, as pessoas começaram a ficar desesperadas! Só se ouvia:
"Misericórdia” e, “Ai Jesus” . Algumas desciam antes, apavoradas.
O elevador não tinha ascensorista e uma mulher reclamava sobre isso.
Mas eu pensava, que diabos as pessoas acham que um ascensorista iria fazer se o elevador tivesse caindo? Viraria super-herói e seguraria o elevador com as mãos?
O fato é que consegui chegar ao nono andar, já preocupada com a descida mas, aliviada por todos estarmos intactos. Realmente estava fazendo barulhos estranhos mas, não fora nada grave. Subiu e parou corretamente. Alguns deram risada da situação de "meio-pânico", outros chamaram rapidamente pela equipe de manutenção para verificar o que poderia estar rangendo o elevador.
Eu não pensei que poderia morrer mas, que talvez, ao cair pudéssemos nos ferir gravemente, isso pensei.
Quando contei a situação a um amigo ele me disse que ao nos separar com situações de grande estresse temos de tomar cuidado para não deixar as pessoas a nossa volta em pânico. Ainda que estivermos com medo também, precisamos passar tranquilidade. Com o tempo e, acho que depois desse episódio o meu medo de elevador sumiu! Acabou! Mas precisei atravessar aquele momento.
Outra coisa que tenho medo mas, sou obrigada a enfrentar quase sempre. O motorzinho de dentista. Aquele aparelho chato que apesar de toda evolução tecnológica continua com o mesmo barulhinho desde os primórdios.
Mas eu sei quando tudo começou... Certa vez, minha mãe me contou a história de que estava no consultório dentário enquanto a dentista, além de fazer sua obturação, assistia pela minúscula TV de teto, o velório de Airton Senna. Ela parecia paralisada a ponto de sem querer deixar escapar o aparelho e machucar a gengiva dela. Foi sangue pra todo lado! Um absurdo a falta de atenção!
Então, sempre que preciso enfrentar um dentista lembro dessa história e peço sempre para Deus colocar a mão na vida de quem estiver me atendendo para eu não passar o que minha mãe passou.
Agora, o medo mais medonho, comum e, que de tão comum para muitos soam até como frescura é o medo de baratas. A maioria diz que não têm medo de baratas e sim nojo delas. Eu acho que o meu medo ultrapassa todo o nojo que elas possam causar. É um medo surreal,
Na época que eu e meu marido nos mudamos para uma cidade chamada Guararema, no interior de São Paulo, estávamos tão cansados na noite da mudança que apenas montamos a cama e jogamos o colchão encima. Precisávamos dormir de qualquer jeito mesmo. E invejo meu marido pois, ele dorme como uma pedra! Pra ele não tem tempo ruim. Qualquer lugar serve para ele “esticar o esqueleto.” Eu não tenho insônia, durmo bem também mas, não sou assim, adaptável a ambientes novos. Leva tempo para eu acostumar com o lugar que estou e conseguir relaxar. Mudança de casa é uma tortura pra mim pois, levo pelo menos uns quinze dias para meu metabolismo "entrar nos eixos."
E nesse dia, com as coisas todas espalhadas no chão. Caixas e mais caixas de papelão servindo de mesinha e apoio e restos de lanche nos pratinhos fomos dormir. Casa bagunçada, suja, calorão...ambiente propício pra quê? Para as temíveis baratas, claro! E foi quando eu estava quase pegando no sono que senti algo se acomodando na minha mão e caminhando devagar. Era uma barata enorme! Se eu gritei? Gritar foi pouco! Eu saltei num pulo só gritando e sacudindo a mão, sentindo que poderia ter um infarto e procurando desesperadamente o interruptor. A barata voava fazendo um barulho assustador com aquelas asas pavorosas lembrando um helicóptero negro.
Eu enrolei um lençol da cama na cabeça para me proteger e acendi a luz, enquanto meu marido ainda começava a abrir os olhos, perguntando o que havia acontecido e porque o grito. Eu apenas apontava para o enorme inseto no batente da porta.
Eu não falava, não conseguia e estava engasgada. Achava que se falasse a barata poderia me escutar e voar novamente.
_É só uma barata! Vamos dormir!-ele dizia, se virando para o outro lado da cama, ignorando completamente.
_Só uma barata? Dormir? Como? Com essa barata voadora me ameaçando o tempo todo? Ela estava andando em cima de mim! É uma barata voadora!
_Mas todas as baratas são voadoras. Você já viu alguma barata sem asas?
_Bem, não...mas essa é pior! Ela é enorme e não vai nos dar trégua! Temos de nos livrar dela ou não vou conseguir dormir!
A contragosto e resmungando meu marido começa a levantar.
_Cadê o inseticida?
_Não temos inseticida.
_Então busque a vassoura!
_Tá na cozinha
_Então vai lá e pegue!
_Eu não me mexo daqui onde estou! Vai você! A barata está bem ali, no batente da porta, mexendo aquelas antenas enormes. Se eu passar e ela me atacar?
_Aff, deixa que eu pego!
_Mas você vai me deixar aqui sozinha?
_Ué, você quer que eu mate a barata como?
_Não precisa matar. Só colocar pra fora.
_Mas pra isso preciso ir até a cozinha pegar a vassoura.
_Está certo, têm razão...mas não demore! Não me deixe aqui sozinha com esse monstro!
_Era só o que me faltava: “Uma borboleta com medo de baratas” – brincou.
Enquanto isso eu ficava ali, criando estratégias em minha mente caso ela voasse em minha direção. Ainda tinha a opção de me trancar no banheiro se eu fosse rápida.
Logo escutei meu esposo lá da cozinha:
_Você não sabe o que tem aqui na cozinha?
_Não me diga que essa casa está infestada de baratas? – me apavorei.
_Não. Mas têm uma rã atrás da porta!
_Uma rã??
Nesse momento esqueci o meu medo de baratas e fui buscar outra vassoura. Abri a porta da cozinha que dava para o quintal e como havia chovido comecei a observar as poças d'água e o que eu temia estava acontecendo. Rãs minúsculas se dirigindo a porta de casa. Podia vê-las saltando em um grupo de pelo menos seis. Por alguns segundos aprecia que eu estava vendo um exército mas não me intimidei.
"Podem vir!" Estamos preparados! Naquela noite não dormi, me livrando de insetos e rãs. Não sei se venci o meu medo de baratas mas, que ali havia nascido uma guerreira, isso tinha.