Ficção versus realidade

Uma vez, discutindo com o meu pai, ele perguntou como eu podia não acreditar em possessão demoníaca já que sempre gostei de filmes como O exorcista e eu respondi:

-Temos que saber separar ficção e realidade. Imagina se eu fosse acreditar em filmes de faroeste. Era para achar que todos os índios eram malvados?

Meu pai não se satisfez e insistiu que os filmes podiam ser exagerados mas tinham um fundo de verdade e não quis mais conversar. Mas eu fiquei pensando no assunto por muito tempo. Imaginemos filmes de tubarões, nos quais os tubarões são colocados como máquinas assassinas loucas por carne humana. Embora saibamos que, na vida real, tubarões são perigosos, devemos lembrar que eles não agem como nos filmes. Peter Benchley, autor do livro Tubarão - que deu origem ao famoso filme - fez campanhas em defesa dos tubarões porque pessoas, impressionadas com o filme, queriam aprender como matar tubarões.

Lembremos então dos filmes da série Rambo. O próprio Sylvester Stallone, em uma entrevista, declarou que seu personagem era fictício e que, se alguém quisesse imitá-lo, era porque com certeza tinha algum problema mental. De fato, não dá para pensar outra coisa. O que vemos no cinema é para nos entreter e, - a não ser que seja baseado numa história real - não há muito compromisso com a realidade. Posso me divertir assistindo a Rambo, porém sei muito bem que um homem solitário, mesmo fortemente armado, não venceria um exército inteiro.

Eu adoro os filmes de Bruce Lee, especialmente Operação Dragão, entretanto não ignoro que um homem sozinho - por melhor que lute - não vence vinte oponentes. Claro que, enquanto assisto, não penso nisso. Limito-me a me divertir. Se eu quiser ver algo realista vou ver um documentário. É bom pensar em saber distinguir ficção de realidade principalmente quando pensamos em casos de moças que, depois de assistir à novela O clone, quiseram se tornar muçulmanas pensando que iriam aprender a dança do ventre e casar com um homem que as encheria de ouro. Deveriam saber que a dança do ventre não é característica do Marrocos, lugar onde se passa boa parte da trama de Glória Perez, mas que a dança do ventre surgiu no Egito e é dançada pelas prostitutas. Outra coisa a se observar foi dita por uma ex-muçulmana. Ela falou que, como o islã admite o divórcio, os maridos enchem as esposas de joias de ouro para que elas tenham como se manter se eles se divorciarem. Também se pode falar que não dá para achar que todo muçulmano é podre de rico.

Vamos aprender a separar ficção de realidade. A vida real não segue as mesmas regras do mundo ficcional e, quando procuramos a ficção, nós queremos descansar um pouco das exigências cotidianas. Um pouquinho de fantasia não faz mal a ninguém, desde que não misturemos ficção e realidade.