As Últimas Aulas (“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais.” - Rubem Alves)

Nunca pensei que chegaria o dia em que contaria os minutos para me despedir da sala de aula. Depois de trinta anos dedicados à educação pública, aqui estou eu, sentada diante de uma pilha de documentos que parecem zombar da minha ansiedade pela aposentadoria.

Ontem mesmo, com as mãos trêmulas, entrei na seção de Recursos Humanos para fazer a famosa "simulação". O coração batia acelerado, como se estivesse prestes a receber o resultado de um exame importante. E, de certa forma, estava. Maria, a funcionária por trás do computador, digitava meus dados com uma lentidão que fazia cada segundo parecer uma eternidade.

"Professora..." - ela começou, e só pelo tom de sua voz já senti meus olhos marejarem - "com a nova legislação, ainda faltam dois anos". Dois anos que, na prática, significavam quatro, considerando a burocracia kafkiana dos processos administrativos e a assinatura do governador.

As lágrimas vieram sem pedir licença. Não eram apenas lágrimas de frustração, mas de exaustão. Cada manhã tem sido uma batalha para manter o entusiasmo diante de 40 adolescentes, quando meu corpo e mente imploram por descanso. Pensei em voz alta.

"Faça de conta que está dando aula", sugeriu um colega atendente da secretaria, numa tentativa desajeitada de consolo. Aquelas palavras me atingiram como um tapa. Em três décadas de magistério, nunca "fiz de conta". Cada aula foi real, cada aluno foi importante, cada momento foi vivido intensamente.

Voltei para casa naquele dia pensando em quantos colegas vi desistirem no meio do caminho, quantos adoeceram esperando a aposentadoria, quantos partiram antes mesmo de conseguir desfrutá-la. O sistema nos trata como números em uma planilha, esquecendo que somos seres humanos que dedicaram uma vida inteira à nobre arte de ensinar.

Mas, hoje, enquanto escrevo estas linhas, decido continuar não sendo uma "fazer de conta". Se preciso ficar mais alguns anos, que sejam anos de verdade, de dedicação autêntica. Porque ser professor não é uma profissão que se possa fingir - é uma vocação que se vive até o último dia, até a última aula, até o último aluno.

E você, que me lê agora, talvez seja um daqueles milhares de alunos que passaram por minhas aulas. Saiba que cada momento foi real, cada ensinamento foi sincero, e que mesmo diante do cansaço e da burocracia, jamais fiz de conta. Porque a educação é real demais para ser fingida.

Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e concisas para as seguintes questões:

Quais os sentimentos e emoções que a narradora descreve ao longo do texto?

Quais as principais dificuldades enfrentadas pela professora em relação à sua aposentadoria?

Qual a importância da dedicação e da autenticidade na profissão docente, segundo a narradora?

Como a Narradora compara a sua experiência como professora com o sistema educacional?

Qual a mensagem principal que o autor deseja transmitir aos seus leitores, especialmente aos seus ex-alunos?