As quatro moças das resenhas no X Sarau

 

As quatro sentaram lado a lado para o bate papo com o público. Reparei que as quatro calçavam tênis preto com detalhes em branco. Estilos sóbrios, a não ser a que, no All Star, possuía uma pequena listra vermelha que combinava com sua camiseta de mesma cor, assim como os cabelos com o seu jeans azul e, ambos, com a cor de suas tatuagens - ah, todas tinham tatuagens, marca dessa geração mais nova. Esta, a do All Star, fez-me lembrar daquela canção do Lobão: "Gosto muito Do teu jeito Rock'n roll meio non sense". Três delas usavam óculos e uma trabalhadas unhas pintadas em verde e branco - a que estava acompanhado por um rapaz bonito e silencioso, namorido.

 

Quem eram essas jovens? Ah, possuem em comum também o fato de resenharem livros de autores independentes ou de editoras, em lançamentos, publicando vídeos sobre estes em suas redes sociais, uma atividade diferente da exercida pelos críticos literários, como ressaltam. E, além de receberem gratuitamente os livros, ganham grana pra isso, sempre mais do que um pix de trinta reais que uma autora caruda certa vez ofereceu pra uma delas. Aliás, nem se apresente com um pix desses pras gurias, carA (o) editorA  ou escritorA: escrevi grana, não troco. Também não curtem escritores prolixos e muito descritivos, metidos a "saramagos" dos pobres, como este cronista que vos escreve,(eh eh eh eh). Ah, quer saber os nomes? Bruna Lopes, Amber Kell e Gabriely, de Charqueadas, e Camilla Coelho, de Guaíba (na foto acima, pela ordem, da sua esquerda para a direita). Estavam as quatro, na quarta-feira, para a atividade "Um olhar feminino para a Literatura e novas tecnologias", mediada pela escritora Amanda de Paula, no X Sarau Literário de Charqueadas, evento que iniciou dia 21 e seguirá até amanhã (confiram nas imagens abaixo).

 

Tá, mas quanto dá pra tirar por mês disso? Varia, mas não especificaram, sinal que dá um dinheiro legal. E como começou isso? Bruna disse que se viu surpresa com autores e editoras se apresentando pra ela resenhar seus livros e citar em redes sociais. Seu grande incentivo para o gosto pela Literatura é o marido Kalil, um leitor voraz desde os noves anos. Amber falou que vem de uma família de leitores, mas que estes não entendem o que ela faz, "isso não entra na cabeça deles". Já Gabriely vem de uma família de não leitores, a coisa nasceu com ela mesmo, enquanto Camilla cita a mãe e um tio-dindo como influências (sou tio-dindo, mas meu sobrinho não lê nada, embora toque guitarra, o meu garoto).

 

Perguntei se o trabalho da youtuber literária Isabella Lubrano era uma influência pra elas, mas, para minha surpresa, disseram quem nem a conheciam. É, o tio João aqui tá por fora, o mundo pode ser pequeno, mas a internet é gigantesca, ainda mais que no canal Ler Antes de Morrer o alvo são mais os clássicos, praia diferente da que as gurias virtualmente frequentam. Por falar nisso, leem mais livros digitais, devido ao custo e por muitos títulos serem publicados apenas dessa forma. "Um livro físico custa o valor de quatro ou cinco digitais, até mais", informa Bruna. "O catálogo digital é vasto, se ficar só no impresso, perde-se muito".

 

Tudo são flores? Não, cancelamentos acontecem. Amber (que nome legal) conta a vez em que se incomodou pra caramba por ter resenhado determinado livro, dando uma opinião que o escritor não esperava e despertando a ira de seus simpatizantes. Sim, a internet é uma gigantesca terra sem lei, né. Por outro lado, seus milhares de seguidores viram uma legião de fãs, que curtem até mais postagens pessoais, como uma árvore, um gato, etc. E ocorre delas resenharem livros dos quais não gostaram. Quando acontece, Gabriely leva um mês para ler 100 páginas! Bruna chegou a contar de quando Kalil lhe questionou o motivo de ler um livro que estava odiando, deitada na cama. Ossos do ofício, ossos duros que exigem a leitura dos textos, a escrita das resenhas e a edição dos vídeos. Dá grana, mas dá trabalho, também. Amber, inclusive, ao responder a pergunta "como fica monetizar o que antes era um hobby?", disse que está dando um tempo pra ler livros que gosta, embora destaque que, pra coisa funcionar, tem de ler, resenhar e publicar seguido, senão a coisa gora.

 

Especificamente sobre o olhar feminino na atividade que exercem, Amber diz que ele aparece "na sensibilidade", principalmente ao tratar de temas do universo feminino, principalmente coisas que podem geram "gatilhos" nas leitorAs. Bruna buscou autorAs de fantasia, gênero de sua predileção. Gabriely e Camilla concordam com as colegas, ressaltando-se que a última, também escritora, trouxe seu livro para o X Sarau, Âmago, onde trata de violências contra mulheres, baseado em histórias reais (já li uns contos contidos em Âmago e superhipermegaultra recomendo, muito bom).

 

E foi isso. Aprendi muito, atualizei-me com as resenhistas, muito legal o que elas fazem. Se os editores Thomás Vieira, na segunda, e Rossyr Berny, na quinta, trouxeram a renovação e a experiência da visão masculina sobre a literatura impressa para o X Sarau, as resenhistas digitais Amber, Bruna, Camilla e Gabriely deixaram o olhar feminino centrado, principalmente, nas mídias literárias da nova tecnologia. Se tu, como eu, está interessadA (o) em saber mais acerca do trabalho das gurias, seus endereços digitais são: @ecleticaleitora (Amber), @brunalopesbr, @camicolelho_ / @cludedanaocultura e @lendocomgaby.