ENGENHO E ARTE
“Cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar o engenho e a arte”
Camões – Os Lusíadas, canto I
Expressão artística e a capacidade de produzir artefatos são inerentes à nossa Espécie, bem mais do que qualquer outra até agora estudada.
O Professor Ariano Suassuna, quando queria demonstrar a sua discordância com a Teoria de Darwin, costumava mostrar um pegador de roupas de madeira e dizia: “quando uma vaca conseguir fazer um objeto igual a esse ou uma sinfonia como fez Beethoven, eu deixo de acreditar que o homem foi criado por Deus”.
Controvérsias à parte, temos a arte rupestre desde os primeiros grupamentos humanos, talvez como salas de aula onde os neófitos aprendiam os pontos críticos dos animais que deviam ser abatidos com os instrumentos de caça criados pelo conhecimento, que Camões figurou com a palavra “engenho”.
Evidentemente, pela simplicidade e eficiência do pegador de roupas, está provado que somos capazes de construir arco, flecha, computadores, satélites artificiais e as máquinas que produzem em larga escala aqueles artefatos que, em priscas eras, dependiam da expertise de artesãos que se dedicavam por toda a vida na produção para atender às carências da população.
Entre as maravilhas que nos são disponibilizadas pela Internet, há séries com resgates de modos antigos de produção que, foram “aposentados” pelas novas tecnologias e de como a madeira, que era a principal matéria prima para produção de bens duráveis, foi substituída pelo plástico, aço ou fibra de carbono.
É lúdica a demonstração de como eram produzidos tecidos, papel, veículos, ferramentas, material de construção, utensílios de cozinha ou objetos para armazenar alimentos naquelas regiões de clima temperado, improdutivas durante boa parte do ano por estarem sob o manto de neve do inverno.
O barril é um desses artefatos que demonstra a genialidade humana.
Apenas madeira justaposta, contida por anéis de diversos materiais (cânhamo, metal, etc.) é capaz de conter o produto que se quer armazenar ou transportar.
Os jurássicos da minha idade hão de lembrar da comparação: “seco como bacalhau de fundo de barrica” quando havia referência a alguém muito magro na época em que o bacalhau vinha embalado em barril.
O barril de hoje é produzido em larga escala, principalmente, para através do envelhecimento, emprestar as qualidades organolépticas da madeira selecionada às bebidas alcoólicas que, dependendo do tempo de armazenamento, podem atingir preços estratosféricos.
Apesar da beleza e engenhosidade da produção de bens naqueles tempos é confortante, pelo menos para mim, saber que não precisamos de mais tempo de espera para adquirir algo de que necessitamos.
Ainda que haja a ociosidade doentia e a fartura desmedida dos tempos atuais é bem melhor viver no século XXI onde a maior parte das coisas podem ser adquiridas através do E.Commerce com 0800, entrega Delivery e frete CIF...
GLOSSÁRIO
CIF = custo, seguro e frete por conta do fornecedor
Delivery = entrega em domicílio
E. Commerce = comércio eletrônico
0800 = ligação telefônica grátis