O começo do fim
Quando você está de férias o que não falta é moléstia. Ou você quer ler todos os livros de uma vez só, assistir todos os filmes em uma única noite, ou ainda ir ao supermercado com intuito de comprar CDs sertanejos. A verdade era que eu estava de férias só no que diz respeito a minha mente. O corpo estava trabalhando. Superei-me. Apenas observava o mundo de como ele é. E não a vida, como escrevia Nelson Rodrigues. É interessante avaliar o funcionamento do mundo, e das pessoas então...nem se fala. Fico impressionado de como há seres incongruentes. Talvez prepotente seja a palavra mais adequada. No entanto, não quero entrar no mérito de ideologias. Apenas continuo na minha lenta caminhada de tentar entender o planeta.
Quando entro no carro, por exemplo, para me locomover em distâncias relativamente longas, não hesito em olhar para o céu e admirar a beleza tão ignorada no dia-dia. Absortamente me perco nas nuvens que até pouco tempo atrás eu achava que eram de algodão. Até pouco tempo atrás eu acreditava que o Papai Noel entregava milhões de presentes em poucas horas com seu trenó voador. Já até acreditei no tal coelhinho da páscoa. Todas essas histórias refletem na vida de um cidadão movido a capital. Por vezes me machuco tão profundamente que não me dou conta de que a culpa não pertence somente a mim. A arrogância é um sentimento que corrói aos poucos a lástima de qualquer humano com boas intenções. Veja a nossa biosfera: Ela era linda, saudável, colorida. Olhe para nós: éramos mais convictos, certeiros, saudáveis e felizes. Já relatei o tamanho desespero que sinto quando aspiro gás carbônico em excesso. Meu amigo Jefferson diz repetidamente que a sociedade convive de olhos vendados. Ele tem razão. O mundo é uma venda enorme manchada de sangue. Não quero aqui contemplar o papel de cristo. Mas pegue o seu exemplo, pondere-se. Quando foi a última vez que você realizou um ato verdadeiramente bondoso? Passar cola não conta. Dar apoio moral no término do namoro de uma amiga também não. Nem cogite a hipótese de emprestar dinheiro. O que mais me deixa eloqüente é fato de sabermos que estamos nos matando gradativamente e mesmo assim não adotamos outra postura.
Há alguns meses eu convidei um estranho para almoçar comigo. Eu não o conhecia, assim como ele não fazia idéia de quem eu era. A questão é que ele estava precisando de dois reais para almoçar, e eu de companhia. Ambos nos ajudamos. Ele ouviu os meus problemas e eu ouvi os dele. Quando relatei esse episódio há alguns colegas todos disseram a mesma frase: “Luan, tu és louco!”. Não havia compreendido. Eles alegaram que eu poderia ter sido assaltado, seqüestrado etc. Até poderia, se eu simplesmente tivesse ignorado o estranho como a grande maioria faz. Depositei confiança nele, e isso se tornou recíproco. Minha intenção não era ajudá-lo para vir aqui e escrever “eu sou uma pessoa boa!”, apenas queria sair da rotina. Sair da igualdade de conceitos. Descobri que o mundo é o que é porque somos todos ignorantes. Aliás, já escrevi isso em outro texto.
Mas, de fato, estamos muito ocupados com baladas, beijo na boca, sexo negligenciado, dinheiro, carro novo, roupas de marca, materialismo total. Não estou pregando que a sociedade deve renunciar o seu padrão de vida. Mas deve estar atenta para os valores invertidos. Cuidado com a ganância. As pessoas mais gananciosas pensam que são “espiritualizadas”. Não tenho saco para este tipo de argumento. Se fosse o Jéferson já diria: “Estão todos vendados”. E eu não me excluo dessa parcela. Até porque escrevo este texto na esperança de que alguém me entenda, e por que não, me socorra de um labirinto cuja saída está cada vez mais distante pela procura de uma felicidade temporária.