Desculpem-me os ateus, mas a oração é um caminho sem volta...
Quem um dia ousou usar a oração como instrumento para alimento do espírito e alma, jamais conseguiu voltar ao seu estado inicial. É da matéria, uma propriedade irreversível.
A maior incoerência conceitual se dá na oração em que o apego e o desapego se encontram reunidos numa mesma frase, sem se dissonarem. E não estou dizendo que seja uma oração determinada, apenas, tradicionalmente usada por essa ou aquela religião, trata-se da característica inerente ao ato de orar, que faz de quem o realiza, um expectador otimista, um motivador realista, um ser de fé.
Mas talvez aí esteja a tônica da oração, na capacidade de humilhar-se, de joelhos, à espera de uma intervenção.
Por isso, a oração é para mim um antídoto que destrói a sensação de autossuficiência(tão comum aos humanos)e revela um descontrole condicionado a um "além", inexplicável, intransponível.
Quem não tem em mãos essa ferramenta, extingue sua consciência com determinismo, e se atira na relação causa x efeito, que não estimula uma segunda chance, a possibilidade de se regenerar/ressignificar.
A oração é um encontro sadio de emoções que transbordam sentimentos de confiança, de cuidado, confiança.
Ora quem clama a Deus por socorro, quem o agradece pelo sol, que ri olhando suas obras. Mas, ora a mãe que prepara o almoço, que lava a roupa, que se deita no cantinho da cama até que o filho caia no sono.
Ora quem louva a Deus no trânsito caótico, quem acende uma vela, quem mantém limpo o seu coração.
Ora quem chora em silêncio, quem vai ao templo e se entrega, quem acolhe um idoso, uma criança, um infrator.
Ora quem olha pro céu e dá uma piscadinha pra Deus, quando as suas vontades se coindidem, mutuamente.
Ora quem se entrega, quem enxerga o outro, quem intercede para que alguém seja feliz.
Ora quem tem coragem de se jogar nesse mar sagrado de convicções, para não correr o risco de, na intransigência e prepotência humana, ver-se maior que os outros.