A PEQUENA SEREIA NAS MINAS GERAIS
Programei para hoje um passeio à histórica cidade de Ouro Preto, já a emoção vibrando ante a expectativa de deslizar pelas ladeiras e adentrar os museus e os templos católicos, como a reviver a história da qual eles foram testemunhas. Andaria à sombra do passado, eu antevia, e fotografaria os detalhes mais pungentes e significantes. Eu assim quisera, pelo menos, mas por circunstâncias diversas a visita ficou para o fim de semana próximo. Viajei, então, para a também histórica Sabará, um tur que se revelou extraordinário e com a mesma intensidade emotiva. Primeiro, o trajeto enveredando pelas ruas movimentadas de Belo Horizonte; a seguir, para deleite dos meus olhos, a exuberância do arvoredo acenando-me de seus galhos ao longo do caminho. Avistei, para meu grande encanto, mais árvores do que jamais vi, nos canteiros, nas calçadas, nos acostamentos, nos vales, nas serras, nos quintais, ao redor das residências, nos morros, enfim, árvores enchendo de sombras bem vindas as ruas, avenidas e estradas. Sendo quase como um bairro de BH, as pessoas caminhavam serenas sob as árvores enquanto o sol tentava atravessar em vão as suas folhas unidas em bloco a impedí-lo. Ao passar por elas, via-lhes o semblante feliz, a tranquilidade de quem vive num Estado cuja qualidade de vida no aspecto ecológico já atingiu elevado padrão. E, devo confessar, não pude resistir a uma pontinha de tristeza por não ter, na mesma intensidade, onde moro, essa regalia natural, esse verde intenso que cobre cada centímetro quadrado de BH. Antes de chegar a Sabará, presenciei, às margens da estrada, as mais belas vistas, estas indescritíveis e valentes, porque me derrotaram, deixaram explícito que não tenho aptidão para descrever-lhes a beleza e o encanto, as palavras me fogem e permaneço atônito e sem ação. Basta dizer que eram magníficas, estonteantes, lindas. Sobre Sabará, nem tanto, à parte sua arborizaçao tal qual BH. Afora isso, visitei um pouco da arquitetura colonial, adentrei algumas igrejas cujo peso da mão do tempo já se acentuava, passeei pelos meandros do comércio e almocei num restaurante simples e sorri para aquele povo simpático, e bastante acolhedor. As igrejas me pareceram o que se espera realmente delas, especialmente a de São Francisco, a de pedra e a do Rosário. O museu, com o seu passado bem presente, relatava a história em respeitoso silêncio. Por ele caminhei sisudo e atento. Assim, minha permanência em Sabará durou o usual para ver e curtir o óbvio, mas que vale a pena vislumbrar pelo gostinho de novidade. Logo regressei a Belo Horizonte para novamente apreciar as árvores e demais plantas que já tornavam a me acenar tão-logo me viam. Ah, sim, e fui também agraciado com sorrisos que o Rio das Velhas, as serras e os vales me lançavam. Cortando parte de Sabará, sinuoso como uma cobra mansa, o rio corria vagaroso o seu curso serpentino e um peixe repentinamente lançou-se de suas águas, abriu a boca no ar e mandou-me um beijo amigo. Naquele momento, extasiado e atônito, conclui que aquilo não era exatamente um peixe, mas, por causa das evidências captadas por minha emoção, uma pequena sereia perdida por aquelas bandas das Minas Gerais. Acenei-lhe meio tímido e vi-a desaparecer nas águas plácidas e amareladas daquele rio parecido com uma grossa veia no imenso sopé da serra recatadamente vestida de verde.