Gratidão pela amizade de Roxana
Dia 02 de abril de 2024
Fazia muito tempo que eu não trocava nenhuma palavra com ela. A saudade tomava conta da minha tarde e eu sentia que precisava gracejar, inventar, recriar. Criar uma forma de perturbar a paz daquela que eu chamaria de luz da minha razão! Pensei em um crocodilo, pois o crocodilo é um ótimo animal para ser estimado. Eles podem se defender de donos cruéis, e então desenhei um crocodilo para puxar assunto com Roxana! Era uma forma de viver um pouco da criança que restou em mim. Eis o crocodilo:
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Ela poderia muito bem me ter ignorado, deletado a conversa, talvez me bloqueado, mas ela me respondeu com um Hello muito educado! E o que eu poderia falar para não deixar a conversa perder o andamento?
Apenas alertei que aquele crocodilo comeria a nossa conversa! Será que ela achou graça, ou foi apenas por educação que riu com essa sequência de letras: “srsrsrsrsr”?
O fato é que eu cantarolei os versos:
Busco palavras e sigo estrelas, o que é que o mundo fez pra você rir assim?
Mas ela não desejava se tocada e rebateu os meus versos, cantando o verso seguinte, magicamente, com um grande ponto de interrogação, me jogando contra a parede:
Pra não tocá-la, melhor não vê-la?
Impressiono-me com o respeito que dedico a ela, entendo perfeitamente que grandes transformações acontecem através da ação da distância: Quer um exemplo? Cito dois! Duas das quatro forças fundamentais da natureza agem à distância: O eletromagnetismo e a força gravitacional. Estas duas forças se enfraquecem com o inverso do quadrado da distância que separam duas partículas, ou dois corpos, mas é suficientemente notável para que o efeito das marés exista; e que as antenas funcionem transmitindo mensagens…Sei perfeitamente que nossas almas podem se tocar mesmo estando a quilômetros de distância…
Eu evitei entediá-la com teorias complexas que cientistas chatos como Newton e Maxwell elaboraram, e apenas respondi que para não tocá-la, seria melhor novela! Calma, eu explico:
A novela funciona com duplo sentido. O primeiro substituindo o não vê-la da letra do Hebert Vianna, o segundo que era melhor assistir uma novela do que passar pelo sofrimento de ter que vê-la sem a possibilidade de tocá-la. Ah que mentira! Eu desejava tanto poder abraçá-la, tocá-la. Desejava tanto navegar com os barquinhos imaginários que construí, pelos mesmos sonhos que o dela.
Mas ainda assim era melhor mantê-la próxima, apesar das distâncias que separavam nossos ideais! A culpa era toda minha, só minha. Eu criara um ideal do qual não sou digno de merecer….
Ela representa minha inspiração? Não sei. Talvez fosse minha respiração. Quando eu sentia que faltava folego, respirava através das palavras que lhe escrevia! E das palavras que recebia dela, meus pulmões renovavam o oxigênio que circulava pelo meu sangue! Duplamente renovado: Através da luz daquelas palavras escritas, captadas pela minha retina, e através dos sons de seu cantarolar delicado! Ah se Ulisses pudesse ouvir o canto da Roxana! E as sereias da Odisseia? Morreriam todas de inveja, e todos os marinheiros regressariam vivos para suas famílias. Para mim, os sons que compõem o nome Roxana, me remete ao nome das Deusas Homéricas. Mas coube ao meu destino ouvir gratuitamente seus cantos inesperados, das associações das leituras que ela fazia das minhas mensagens!
Oh mundo maravilhoso! Como posso expressar minha gratidão por esses presentes que tens me dado?
Numa época de equívocos, eu desejei esquecer o mundo, esquecer tudo ao estilo Blaise Pascal! Que matemático, que Poeta, que Filósofo probabilístico! Mas então, o mundo estaria vazio? Claro que não, que engano mais indiscreto!
Como poderia eu esquecer o mundo se a pessoa mais encantadora que pisou sobre a face da terra morava a poucos quilômetros de mim, neste mundo cheio de tragédias e de belezas! E com qual propriedade poderia eu falar sobre tragédia? Ela me ensinava o verdadeiro sentido da palavra gratidão! Eu que depois de uma longa vida de erros, egoismo e inconstâncias, finalmente era capaz de perceber cada dádiva que a vida havia me dado.
E uma das mais apreciáveis dádivas era que compartilhávamos a mesma era e orbitávamos a mesma estrela a bordo daquele pálido ponto azul que os humanos batizaram de terra! Eis que em um belo entardecer do planeta terra, ela havia sido enviada por Cristo, quando eu era uma criança feliz de uns cinco anos de idade. Duas décadas de silêncio se passaram para darmos conta de nossas coexistências, ironicamente ela detectou em mim todas as minhas mazelas das quais eu me envergonho profundamente…
Mas essa história merece ser contada em outras aventuras, em outra noite de insônia. Deixo a mensagem de que manter contato com ela me basta para nunca mais duvidar da existência de Deus! Uma conversão à luz da seita pitagórica, que respeitava todas as manifestações religiosas com profunda devoção. É com essa devoção que sou grato a Deus, por ter feito nossos caminhos se tocarem.