Caminhadas flanantes

Tenho o hábito de fazer minhas caminhadas pelas ruas da cidade sem destino certo. O objetivo é andar noventa minutos todos os dias. Não posso chamar de flanadas porque a definição de flanar é andar ociosamente sem rumo nem sentido certo, perambular. E eu ando bem acelerada, faço uma caminhada sem estar em uma pista de caminhada, um flanar bem acelerado.Hoje vivi um problema que está cada vez mais frequente nas minhas caminhadas flanantes.

Eram umas oito horas, estava em uma rua deserta de pessoas. Fui atacada por um cão, ele não me deixou seguir em frente. Latia e se jogava para cima de mim com uma postura bem ameaçadora. Eu estava com uma sombrinha na mão, ameacei-o com ela, ele recuava quando eu mirava a sombrinha em sua direção e continuava latindo e vindo em minha direção quando eu continuava a andar. Tive que voltar, seguido por ele, latindo e ameaçando. Senti muito medo e não sabia o que fazer. Sempre ouço dizer que não se deve correr de cachorro porque aí ele ataca mesmo e tive receio dele me morder se continuasse tentando afastá-lo com a sombrinha como fiz no início. Andei uns dois quarteirões com ele bem próximo a mim e latindo. Ao dobrar a esquina, ouvi uma voz chamando, eu acho que por ele, porque ele se calou, recuou e eu segui sem olhar para trás.

No condomínio onde tenho um sítio caminho indo e voltando e aí é sem rumo mesmo. Vejo um cão na rua, volto, mais adiante vejo outro, mudo de rumo. Meu percurso nunca é o mesmo, dependo de quantos e onde estão os cães, que circulam livremente. Há pouco tempo, estava caminhando dentro do condomínio com um amigo. Um cão saiu apressado de dentro de um carro que acabara de estacionar. O dono, penso que do carro e do cão, abriu a porta e ele, o cão, pulou e fincou seu dente canino na panturrilha do meu companheiro de caminhada. Nem latiu. Partiu para o ataque sem aviso.

Não sou especialista em comportamento canino nem quero discutir se estes dois cães deveriam ser contidos pelos donos ou qual seria a solução. Fiz um relato e um desabafo. Nestes dois casos houve um confronto entre cães e humanos. Conheço os argumentos que os defensores de animais usam e concordo com muitos deles. Este planeta não é centrado na existência humana. O antropocentrismo renascentista há muito vem sendo debatido. A relação humana com os animais está mudando para uma atitude mais respeitosa e simbiótica. Somos predadores do planeta e de outras espécies animais.

Mas, qual será a solução para estas questões? Os cães podem andar livremente pelas ruas? Se podem, por que outros animais não podem? Por que matamos outros animais, tentamos controlar pragas urbanas com o argumento que são prejudiciais ao homem? O respeito não é para todos os seres viventes? Não estamos sendo antropocêntricos quando decidimos quem pode dividir o planeta com os humanos e quem não pode? Os tutores são responsáveis pelos danos que seus animais causam a outras pessoas e animais? Os tutores são responsabilizados pelo abandono dos seus animais? As leis são respeitadas? Quem é o responsável por animais abandonados pelas ruas? Como será a relação animais domésticos e humanos no futuro?

Mais uma vez não tenho respostas e nem quero defender ideias e posições. Só coloquei questões e faço um convite para pensarem aqui comigo.

Márcia Cris Almeida

22/10/2024