Quem vê cara não vê....

... Tanta coisa! Já diz o ditado: “quem vê cara não vê coração” e é bem lá, no fundinho do coração, que nos escondemos. Nossas tristezas e desertos, nossas sombras, imperfeições, medos, angústias e muito do que não desejamos trazer à tona.

Escondemo-nos tantas vezes de nós mesmos, outras tantas (a maioria delas) nos escondemos do mundo. Em 2015 houve uma campanha do Ministério da Saúde que dizia: “quem vê cara não vê Aids, use camisinha!” Tudo isso porque somos levados pela aparência. A imagem do outro, tanto nos diz, que nos engana.

Mas, e nós? O que estamos escondendo do mundo? Quantas pessoas passam por desertos, depressões, crises de pânico e ansiedade, sofrimentos do espírito de tamanho inimaginável a quem não é atormentado por semelhantes problemas, mas passam incólumes, ninguém nota, ninguém percebe.

Em 2018 obtive um diagnóstico de Depressão e Transtorno de Ansiedade Generalizada. As pessoas ao meu redor me diziam: Mas, você com depressão? Isso não combina com você! (Também acho) Você tem uma vida tão boa! (Tenho mesmo) Você vive sorrindo, é entusiasmada, divertida, alegra o ambiente, como você pode estar deprimida? (Eu também adoraria saber...) Você que tem uma família amorosa, tem qualidade de vida, um emprego adorável, como pode estar deprimida? (o ‘como’ eu não sei, mas sei que foi exatamente isso aí que me salvou).

Eu atravessei meu deserto sorrindo, aparentemente feliz, com uma imagem impecável de pessoa bem sucedida, mas por dentro, não posso nem descrever o que eu sentia. Às vezes ainda sinto, tantas e tantas vezes ainda encontro desertos para atravessar e o que me sustenta é a minha família, meus amigos e meu trabalho. Mas e quem não tem apoio? Como essas pessoas fazem para sobreviver?

Quem diria que Robin Williams, o grande comediante que protagonizou filmes inesquecíveis, estava enfrentando uma depressão quando chegou ao seu limite? Ou que a brilhante escritora britânica Virgínia Woolf seria capaz de encher os bolsos de pedras e se atirar num lago? E mais recentemente, o jovem Liam Payne, ex-integrante da banda One Direction, quem imaginaria que se sentisse absolutamente só e desesperado a ponto de pular da sacada de um hotel?

Sucesso, dinheiro, fama, nada disso é remédio para a depressão. Nada disso afasta a dor. Quem enfrenta problemas de ordem emocional, psiquiátrica ou espiritual sabe o que sente. Ninguém mais é capaz de mensurar o sofrimento do outro. Por isso não devemos nunca menosprezar ou minimizar a dor. Sobretudo quem nunca passou por algo semelhante.

Depressão não é doença de rico, tampouco é uma doença de pobre. Depressão é uma doença do ser, é uma patologia da existência e merece cuidado e atenção. E não pensem vocês que este texto é um pedido de socorro! Não! Eu estou bem! Estou equilibrada, embora não esteja agora no meu melhor momento. Aprendi que o tempo é o melhor remédio, mas nada se compara ao apoio familiar. Cuide dos seus! Ame-os! Olhe em seus olhos e lhes diga o quanto eles importam para você, não tenha vergonha de parecer piegas, brega e nonsense. Todo mundo aprecia um carinho, um cafuné e um ouvido disposto. Seja colo para os seus! Seja porto seguro.

E saiba que pode sempre contar comigo quando precisar de amparo e alguém para lhe ouvir! Eu entendo você!

Meu carinho!