O Rei de nada

Nunca fui favorável a rótulos, estilo “fulano é o Rei do Rock”, “sicrano é o Rei do Pop”, enfim, esse tipo de marca indelével que cravam no indivíduo, faço uma exceção a Pelé, mas esse é outro caso, afinal, como o maior de todos, é quase impossível definí-lo de outra forma, então cabe a ele o epiteto o “Rei do Futebol” mesmo! Um caso raro em que não pairam dúvidas!

Bom, o fato é que cismei de abordar esse tema ao ler uma reportagem antiga sobre o (chato) Chacrinha, onde há referências a uma (mais uma!) chatice do apresentador que tinha por hábito apresentar determinado cantor como “Carlos Alberto, o Rei do Bolero”, “Altemar Dutra, o Rei do Bolero” (de novo?) ou então “Odair José, o Rei do Brega”, “Clara Nunes, a Rainha do Samba” e por aí vai; deixando claro que essa mania não era - e não é, afinal está “institucionalizada”, hoje temos reis que podem ser qualquer um, rei de qualquer coisa, como o Rei da Soja (qualquer um que tenha muita soja), O Rei do Gado (qualquer um que tenha muito gado, muitos bois, embora tenha começado com a homenagem de Teddy Vieira ao Moura Andrade), o Rei do Pagode (que era o incrível Tião Carreiro, hoje pode ser qualquer um que cante samba estilizado) - só do Chacrinha, usei o cara pra delinear uma linha de chatice crônica.

Subindo um pouco a régua, Rubem Braga, um dos maiores escritores brasileiros passou a ser citado exclusivamente como cronista (Claro que ele era cronista, mas suas crônicas estão entres os mais belos textos já produzidos em lingua portuguesa, então ele era um grande Escritor, reduzí-lo a simples condição de cronista como se esse fosse um clubinho menor dentro do universo literário me parece empobrecer o legado do autor). Não vou questionar classificações literárias, afinal de contas Crônicas, Contos, Novelas, Romances são exatamente isso e tem que haver classificações até para facitar a ordem natural das obras literárias, plásticas, enfim, das obras em geral; não nomeá-las seria complicar sobremaneira o ordenamento, o armazenamento, a busca, enfim. Mas Guy de Maupassant não pode, a meu ver – quer dizer, poder pode, não deveria – ser citado sempre como poeta e cronista, mas ter sempre claro que era um grande Escritor, assim com Carlos Drummond de Andrade (textos curtos, poesias pra quem curte “reduções”), porém, acima de tudo um maravilhoso Escritor!

Pedro Nava então, tachá-lo de memorialista (não sei se o próprio Nava gostava disso ou não) é tirar do Escritor toda uma aura, é reduzí-lo ao “baú de ossos”.

Luizinho Trocate
Enviado por Luizinho Trocate em 22/10/2024
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