YOKO ONO E AS BARATAS
Sejamos explícitos: trata-se basicamente de um inseto. Pelo menos, esta foi a classificação que aprendi no ginásio. Desde que tenha três pares de patas é inseto, e estamos conversados. Um vizinho da minhã mãe até se revoltou contra isso e comprou um pato, assim passou a ter sete e deixou de se sentir um inseto. Agora ele possui três pares de patas e um pato, que é para ver se os ovos delas vingam e os netos dele venham a ter patinhos para brincar.
Piadas à parte, na verdade, trata-se de muito mais do que simples insetos. As baratas se espelham no comportamento humano. Se esgueiram pelos cantos, se locupletam nos restos e nas sobras. Exímias sobreviventes, chafurdam no esgoto e fazem turismo na sua casa. Igual parente.
Voltemos às baratas. Elas já foram protagonistas de filmes de terror, ficção científica, literatura, estória em quadrinhos e até de programa de auditório no qual os participantes deveriam comê-las. Asqueroso, além de indigesto. Mas aonde elas mais aparecem é no palco das nossas casas. Desconfio que desejam nos observar. Certamente devem ser de Marte ou da Galáxia de Andrômeda. Entram em tudo que é lugar possível e adoram particularmente a lã de vidro dos fogões e das máquinas de lavar louça.
Adoram papel vegetal, também. Certa feita trabalhei em um escritório de arquitetura, nos idos do século passado. Desenhávamos em papel vegetal com tinta nanquim. Todas as manhãs encontrávamos umas bolinhas vermelhas perto dos rolos de desenho e descobrimos, depois de muito estudo (que envolveu todos os funcionários), que as baratas estavam comendo os desenhos, com uma particular predileção pelas partes pintadas em vermelho. A única conclusão possível é que o computador foi inventado para que se possa diminuir o consumo mundial de papel vegetal e, assim, privar as baratas dessa guloseima.
O que elas mais sabem fazer, no entanto, é assustar. São muito boas nisso. Umas até fazem vôos rasantes, outras apenas correm em sua direção. São pré-históricas e pré-histéricas. Primeiro porque remontam a milhares de anos e segundo, pela reação que causam nos humanos. Não entendo o porquê disso. Inofensivas, pois sequer mordem, desejam apenas observar de perto o nosso fazer. Ou melhor, o nosso modo de espalhar migalhas pelo lar. Adoram um bom veneno e parecem esticar as patinhas, como quem pede mais, quando borrifadas com algum mata-tudo. Descobri que passando veneno à noite, sempre encontrarei baratas pela manhã. Assim, é só deixar de passar veneno que elas não vão aparecer. Portanto, gostam é do veneno e são atraídas por ele. Pura lógica aristotélica, nada mais. Mesmo assim, toda vez que vejo uma, borrifo veneno nela. Assim me lembro sempre da reação da bruxa e do regozijo do homem de lata, quando Dorothy jogou água e a malvada bruxa do leste derreteu.
As baratas amam a praia e as casas que têm por lá. Apartamento, então, nem se fala. São grandes curiosas e procuram aprender o máximo possível, fazendo-se presentes em todos os locais nos quais os humanos ficam. Igual Yoko Ono.
Sei que Yoko Ono não é barata, mas deve ser parente próximo, pois ambas adoram locais limpos para procriar e se alimentam de lixo. Se alguém conseguir gravar o grito de uma barata, antes ou durante uma chinelada, vai ver que os discos da Yoko são puro plágio. De resto, o que ela (a Yoko) empilhou recentemente no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, atraiu um monte de barata. Todas pensando se tratar de um banquete. A prova maior do que estou falando veio do veredito que meu filho exclamou após ver a exposição: "O maior barato!"
Amigos, não sei o que é pior. Sinceramente, ambas me fazem ter calafrios na espinha e vontade de vomitar.