SEM ELA, AS SOMBRAS

Todos os dias eu me pergunto se vale a pena a ilusão, então reflito alguns minutos e pondero se mim para mim: se é o único fio onde segurar para não cair no abismo, se tem a doçura das quimeras e o suave sabor dos sonhos, como não valeria? Sem ela o que mais restaria em meus dias? Durmo e acordo na companhia dela, o dia inteiro ela está do meu lado, olhos lá fora e recebo seu aceno, cada parede da casa exala a fragrância da ilusão.

Ela transparece devaneio sim, e talvez realmente seja, mas se inexistisse certamente eu me afogaria no vazio das emoções, o sentido das coisas evaporaria, o todo se transformaria no simplesmente nada. Necessito tê-la por mais toscos que sejam as razões, os dias morrem sem sua presença etérea, o coração agoniza se apenas um momento sem ela. Além disso, reconheço, já estou habituado aos seis desígnios, me completa, é parte integrante dos meus pensamentos.

Por certo a convivência com invisível angustia em determinados momentos, tenho consciência disso porque inapelavelmente composta de lembranças e dores que se incorporam à sua doçura. Posto isso, faz-se perceptível o desencontro da sintonia, desaba a harmonia das ideias, o caos da insegurança ante a perspectiva de que talvez amanhã acabe se infiltra e causa tristeza. Com a ilusão as probabilidades, sem ela as sombras.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/10/2024
Código do texto: T8178868
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.