Entre Sem Bater - Analogias
Sigmund Freud disse:
"... analogias não provam nada, isso é verdade, mas podem fazer com que a pessoa se sinta mais em casa ..."
Com toda a certeza, os estudos de Freud ajudaram muito a sociedade a entender psicopatas e seus segredos, sem analogias pueris. Com apoio de psicólogos e outros profissionais da saúde mental os sociopatas também tiveram sua atenção. O grande problema é que o imbecil da aldeia que não entende muito de sociedade, ganhou o mundo.
ANALOGIAS
Alguns profissionais, de algumas especialidades e segmentos, mesmo de ciências sociais, deveriam ter proibição pétrea para usar analogias. Definitivamente, ser um positivista(2) ante analogias e metáforas de processos judiciais é insano.
Podemos dizer, com toda a certeza, que utilizar a própria definição do dicionário, para analogia, exige muito cuidado. O que, atualmente, parece não ser uma preocupação nas redes sociais e até organizações sérias. E, como se não bastasse, quando muitas pessoas não entendem a aplicação de ironias(*), as analogias atrapalham tudo.
Dicionário
analogia ( a-na-lo-gia )
substantivo feminino
1. Relação de semelhança entre objetos diferentes.
2. Investigação da causa das semelhanças.
3. Razão da formação das palavras.
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2024.
Desse modo, é assustador como alguns profissionais não conhecem o tema que utilizam para fazer analogias e utilizam absurdos comparativos.
Por exemplo, advogados são especialistas em utilizar analogias em suas iniciais ou defesas, e podem até prejudicar seus clientes. Eu ousaria dizer que são os piores na aplicação destas relações comparativas pois ignoram, solenemente, a segunda acepção. É provável que a maioria destes advogados nunca se detiveram sobre o pensamento de Freud.
PROSTITUTA DAS PROVAS
Essa joia rara do Direito - Prova Testemunhal - é a ovelha negra das provas, ou melhor, a “prostituta das provas”. Certamente, uma metáfora do nível uma piada de tiozão do pavê.
E por quê temos este tipo de esculhambação no Poder Judiciário?
Simplesmente porque a capacidade humana em relatar um acontecimento sob juramento se tornou, para operadores do Direito, puro escárnio e desconfiança.
Sejamos honestos, esse termo é de uma falta de sutileza ímpar, que revela a profundidade de um pires de muitas pessoas. A expressão em questão não é apenas desrespeitosa e, sem dúvida, preconceituosa. É também a revelação do esforço intelectual admirável para encontrar a analogia mais grotesca possível.
Afinal, comparações criativas no Direito deveriam ser bem-vindas, contudo a maioria delas resvala em terrenos pantanosos. Se a prova testemunhal é uma tal "prostituta", como deveríamos classificar aquelas que a julgariam com tamanho desprezo?
PROVAS E EVIDÊNCIAS
Em muitos processos, as partes (autores e réus, reclamantes e reclamados) e seus representantes, não conhecem do que estão tratando. Em outras palavras, além da legislação, juízes e advogados, são mais do que leigos no tema em julgamento. Por exemplo, um cidadão foi vítima de um golpe através de comunicação digital e perdeu muito dinheiro. Neste caso temos o banco, a vítima, o golpista e os representantes do Judiciário. Inquestionavelmente, qualquer um deles não conhece os detalhes do crime, a não ser o golpista que estará longe dos autos.
Desse modo, as provas e evidências não podem ter sua produção pelas testemunhas e muito menos ter avaliação das partes. Surpreendentemente, existem profissionais do Direito que se julgam aptos a defenderem as partes através de analogias. Ora... ora... ora ..., diria o filósofo de botequim: Se você não conhece a matéria, sua analogia vai passar longe da verdade(3).
IRONIAS DA VIDA
O depoimento de uma testemunha, mesmo que em casos complexos, é um elemento crucial em muitos processos judiciais. Podemos dizer que, afinal, nem sempre temos aquela prova concreta, palpável e indiscutível. Entretanto, nestes tempos modernos, uma coisa que os ambientes virtuais e digitais introduziram foram as provas concretas.
Por outro lado, entra a malandragem: “Ah, a prova testemunhal é fraca, manipulável, interessante... logo, é uma prostituta.”. Outrossim, os questionamentos apresentam-se com analogias que desviam a atenção dos julgadores do objeto do processo.
Assim sendo, como num passe de mágica argumentativa, a extensão de quem testemunha e de quem avalia-se testemunhos vai para o lixo. Se acontece desta forma em processos no Judiciário, o que dizer dos "julgamentos" da opinião pública nas redes sociais?
Provavelmente, alguns operadores do Direito esquecem que a verdade não é um vídeo em alta definição e com áudio cristalino. A perícia, em tempos de inteligência artificial tem que fazer o papel da testemunha ocular, dispensando depoimentos. Certamente, os relatos de pessoas que vivenciaram as ações estão ficando cada vez mais dispensáveis, bem como analogias sem nexo.
MUNDO DIGITAL
A ironia aqui é dupla.
Em primeiro lugar, porque a prova testemunhal, a tal “prostituta”, resolvia numerosos casos onde não existem provas diretas. Num mundo predominantemente digital, perícias, auditorias prévias, procedimentos de segurança, devem prover provas testemunhais.
Os grandes julgamentos que outrora marcaram a história, dependeram dessas “pobres” testemunhas para se chegar a uma conclusão justa.
Em segundo lugar, porque quem trata essa prova com tal desprezo provavelmente se esqueceu de que já confiou em testemunhos. Quem nunca acreditou no amigo que jurou ter visto uma carteira cair no chão? Ou nenhum colega que disse ter presenciado um acidente? No caso do mundo digital, a prova não é testemunhal, é pericial e factual.
Ah, mas em processos judiciais isso não serve! Lá, a coisa muda de figura. A palavra das testemunhas é suja, manipulável... prostituta, claro.
Em suma, o mundo mudou e ter rábulas com suas analogias e chavões jurássicos configura-se um desrespeito.
METÁFORAS E ANALOGIAS ABSURDAS
Desse modo, brincando com metáforas e analogias absurdas, é justo pensar em como nomear essa tendência de denegrir a prova testemunhal.
Quem sabe “gigolô das provas”, já que essa turma gosta de explorar analogias, sem nenhuma investigação ? Ou quem sabe “falsário das palavras”, pois o que se faz é falsificar conceitos e ideias só porque não se tem informação correta? E por que parar por aí? Podemos criar toda uma lista de apelidos! “Bobo da corte da razão” para aqueles que se apressam em desqualificar um depoimento ou laudo. Adicionalmente, o “colecionador de falácias” poderia descrever o indivíduo que adora analogias simplistas para explicar sua ignorância.
Claro, vamos fazer uma ressalva: a prova testemunhal nunca foi a solução perfeita e infalível para todos os casos. Longe disso. Existem falhas, como na maioria das prova que um processo ou inquérito contém. Desse modo, dizer que ela é a “prostituta das provas” é como dizer que a matemática é a “assassina das dúvidas” — ridículo, não? No final das contas, com toda a certeza, a falibilidade de qualquer prova, seja ela testemunhal ou pericial, não se resolve com analogias esdrúxulas.
Resolve-se com orientações, com análise, com bom senso e perícias em ambientes digitais e analógicos que apresentem evidências. Por outra, podemos afirmar que em ambientes totalmente digitais, as evidências são provas com elevadíssima qualidade para conclusões.
PROBLEMAS E SOLUÇÕES
A grande questão é: quem ganha quando se ridiculariza uma ferramenta de julgamento com uma frase de efeito ou analogias de gosto duvidoso?
Talvez o verdadeiro problema seja uma preguiça mental(4) de lidar com a complexidade do ser humano e de suas percepções. Uma incompreensão preconceituosa com tecnologias e conhecimentos que extrapolam a legislação.
Então, quando vemos uma "solução fácil" ao desmoralizar a prova testemunhal, pintando-a como uma figura imoral, temos um paralogista em ação. E assim sendo, segue-se o show dos absurdos e comportamentos pouco profissionais. Em suma, quem fica com o ônus de carregamento dessas analogias grotescas nas costas não é a pobre da prova testemunhal ou perícia. São os próprios operadores que se valem dessas “pérolas” e, sem perceber, comprometem o próprio processo de justiça que tanto juram defender.
Enfim, as tecnologias atualmente existentes são mais do que suficientes para dar celeridade e confiabilidade em processos judiciais. Por outro lado, a disposição dos operadores do Direito em entender e utilizar estas ferramentas é quase nula. É provável que Direito, Tecnologia e Inovação sejam irreconciliáveis por motivos obscuros e indecifráveis.
As analogias sem o menor propósito saíram dos autos e invadiram o mundo digital, não tem volta! E as pessoas se sentem "em casa" com mentiras, analogias e outros despropósitos das redes sociais.
"Amanhã tem mais ...
P. S.
(*) Este texto contém ironias e é sarcástico. Desse modo, é totalmente desaconselhável para portadores da Síndrome de Asperger e outros que vestirem a carapuça.
(1) "Entre Sem Bater - Sigmund Freud - Analogias" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/10/21/entre-sem-bater-sigmund-freud-analogias/
(2) "Entre Sem Bater - Albert Einstein - Não sou Positivista" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/02/entre-sem-bater-albert-einstein-nao-sou-positivista/
(3) "Entre Sem Bater - Bertolt Brecht - A Verdade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/02/06/entre-sem-bater-bertolt-brecht-a-verdade/
(4) "Entre Sem Bater - Liz Hurley - Preguiça Mental" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/03/10/entre-sem-bater-liz-hurley-preguica-mental/