ESCREVER PRÁ QUE?
Francisco de Paula Melo Aguiar
Escrever prá que?
Para vomitar o que pensa naquele momento, mesmo correndo o risco de não ser lido e se lido não agradar a todos, porém, mesmo assim escreva, não faça "barragem" do que pensa para evitar sangramento pelas bordas e provocar rompimento e alagamento existencial entre escrever e não escrever com medo de si e do que escreve, bem como da crítica construtiva ou destrutiva de seus leitores ou curiosos plantonistas.
O nosso romancista e escritor brasileiro João Cabral de Melo Neto, afirma que
"escrever é estar no extremo de si mesmo".
Já o escritor Eugène Ionesco, diz que "devemos escrever para nós mesmos, é assim que chegaremos aos outros."
O escritor português José Saramago, do alto de sua experiência de escritor, menciona que "somos todos escritores só que alguns escrevem e outros não".
Assim sendo, concordamos com este brilhante pensar do Saramago, uma vez que ninguém de fato está obrigado a escrever ou não escrever, trata-se, portanto, de ato livre de querer ou não querer, opcional.
Para o escritor português Fernando Pessoa, outra estrela literária de grande e real grandeza nos afirma que "Não escrevo para agradar
nem para desagradar. Escrevo para desassossegar", o que nos leva a ideia de perder o sossego por agradar ou desagradar a muita gente.
A nossa figura literária Clarice Lispector nos engrandece e nos incentiva para botar no papel o que pensa ao mencionar que "eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e auto risco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever". Uma grande escritora como Clarice sabe mais que registrar o seu tempo que a borracha física existencial não apaga.
O escritor Júlio Cortázar, enfatiza que "escrever é uma luta contínua com a palavra."
O romancista brasileiro João Guimarães Rosa, escreve que "pensaram alguns que eu inventava palavras a meu bel-prazer ou que pretendia fazer simples erudição. Ora o que sucede é que eu me limitei a explorar as virtualidades da língua, tal como era falada e entendida em Minas, região que teve durante muitos anos ligação direta com Portugal, o que explica as suas tendências arcaizantes para lá do vocabulário muito concreto e reduzido".
É o homem escritor faz ao mesmo romance, literatura e história da filologia nacional com suas veredas.
Por outro lado, na visão de Antonin Artaud, diz que "ninguém alguma vez escreveu, pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno". Este inferno é insuportável, desembucha ou bota para fora ou morre com ele.
E até porque Rolando Barthes, nos agracia ao dizer que "a escrita é um ato de solidariedade histórica. A língua e o estilo são objetos, mas a escrita é uma função: constitui uma relação entre a criação e a sociedade".
E bota história nisso e nisto, a vida é a história escrita ou não, é história com todos os seis viés e curvas dos trezentos e sessenta graus do mundo envolvendo seus dois hemisférios: norte e sul.
Então se é assim, vamos escrever, mesmo que os outros não leiam e assim, ficaremos bem conosco, expulsando os santos e os demônios de nossos infernos e nossos céus de brigadeiros.