"HONRAS AO BIGODE" Crônica de: Flávio Cavalcante

HONRAS AO BIGODE

(Um símbolo de outrora esquecido).

Crônica de:

Flávio Cavalcante

Houve uma época em que o bigode era muito mais que um mero ornamento facial. Para muitos, ele representava o caráter, a integridade e, de certa forma, o código de honra de um homem. Quanto maior e mais bem cuidado fosse o bigode, mais respeito ele inspirava. Era como se o tamanho dos pelos acima do lábio medisse a honestidade de seu portador. Aqueles tempos pareciam mais simples. Olhar nos olhos de um homem de bigode farto era como firmar um contrato invisível, onde a palavra valia mais que qualquer papel assinado.

Naquelas décadas, uma promessa feita por alguém de bigode era algo inabalável. O fio de bigode simbolizava o fio do compromisso. Era como se a própria imagem refletisse um homem que, por sua postura e aparência, era incapaz de quebrar a confiança alheia. O bigode robusto, de pontas enroladas ou espesso e cheio, trazia consigo uma aura de respeito e moralidade que hoje se desvanece na poeira do passado.

No entanto, o tempo passou, e o bigode, antes uma honra, começou a ser visto apenas como uma relíquia estética. O que outrora simbolizava honestidade e responsabilidade, foi sendo deixado de lado. E junto com ele, parece que os valores que ele representava também foram se perdendo. Vivemos hoje em uma sociedade em que a ganância reina, a corrupção corre solta e a desonestidade parece estar mais presente do que nunca.

O problema não está apenas na ausência dos bigodes; está, sobretudo, na ausência do que eles simbolizavam. O que mudou não foi apenas a moda, mas o caráter. O que antes era dito com firmeza e confiado sem hesitação, hoje se perde em promessas vazias, palavras corrompidas e intenções turvas. As pessoas já não olham mais nos olhos, e, se o fazem, suas promessas soam como um vazio, sem a substância que um dia existiu.

A ganância tomou o lugar da retidão, e as distorções sociais fazem com que a palavra honestidade seja vista quase como uma virtude arcaica. Antigamente, o peso do passado, com suas tradições e seus princípios, nos orientava para o futuro. Mas agora, parece que o passado, ao invés de ser uma bússola, se tornou um fardo. A falta de valores que permeia a sociedade atual pode, sem dúvida, ser atribuída ao esquecimento dessas tradições, como o símbolo do bigode.

passado não foi perfeito, é claro. Havia desonestidade lá também. Mas parece que, com o passar do tempo, perdemos ainda mais a essência de certos valores simples que mantinham a sociedade unida. Hoje, vemos a fragmentação. As pessoas andam desconfiadas umas das outras. O medo da traição, a sensação de que a verdade é rara, e a crença de que a desonestidade é uma ferramenta de sobrevivência invadem o tecido social.

O bigode, em seus dias de glória, podia não resolver todos os problemas do mundo, mas ao menos era um símbolo de uma época em que se acreditava no outro. Olhar para trás e reverenciá-lo não significa que precisemos voltar a usá-lo. Significa que precisamos recuperar o que ele representava. Precisamos nos reencontrar com a simplicidade de valores, com a palavra que vale, com o respeito ao próximo e, acima de tudo, com o amor genuíno pelas relações.

O mundo de hoje carece não de bigodes, mas de homens e mulheres dispostos a honrar suas palavras, tal como aqueles que ostentavam, com orgulho, suas faces cobertas por pelos, e seus corações cheios de integridade.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 21/10/2024
Código do texto: T8178389
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