O TRÂNSITO
(Dirce Carneiro)
Parado num domingo chuvoso em Sampa.
Debates entre candidatos a prefeito. Apagão, invasor, crime organizado, fraco. O candidato incumbente (é a palavra da vez) foi bem treinado, parece um soldadinho de chumbo. Não pode nem piscar para não mostrar que está sentindo a investida do adversário. O oponente posta-se como quem está à vontade, como se nada do soldadinho de chumbo o atingisse. Ao contrário do boneco de cera, parece que nada não lhe gruda. Como diriam os mais velhos, é véio de guerra.
O trânsito na internet não para. Num ponto há poesia, no outro encontro de mulheres, acolá a política desnuda o não dito, ali é postado texto de entrelinhas sobre o condicionamento cultural de homens e mulheres, todos investidos do poder do macho e do poder do macho com poder.
Pausa para chamada de vídeo. É a visita domingueira, que substitui aquelas chegadas que tocavam a campainha e entravam pela porta física. Não mais o café na mesa, o bolinho de chuva da vó, aquele doce que o neto gosta, o folhear do álbum de fotos.
Congestionado. Não se dá conta dos toques do celular. Há mensagens na estrada. Vai ver ou ignorar?
Inevitável ver o grupo do prédio. Na lavanderia da marca famosa de sabão, o amaciante acabou. Quem for usar que leve o seu para a maciez e o perfume.
Dirce Carneiro
Outubro/2024