O Sabor do Início
Aquele dia ficou marcado para sempre. Não apenas pela chegada de Marcella à minha vida, mas também por algo que, para muitos, poderia parecer banal, mas que para nós se tornou simbólico: o apetite.
Quando Marcella chegou, o clima era de acolhimento. Preparei um café da tarde simples, algo que eu sabia que traria conforto: café, leite, algumas bolachinhas e, claro, pães fresquinhos. Ela ainda estava um pouco tímida, como quem pisa pela primeira vez em um terreno novo, tentando sentir o ambiente, observar os gestos, encontrar sua própria maneira de fazer parte daquela casa.
Mas foi no cair da noite que a mágica aconteceu. Sentados à mesa, conversando sobre coisas leves, eu a encorajei a se soltar. Queria que ela sentisse que, naquele espaço, tudo o que precisasse ou desejasse estava ao seu alcance. Com um sorriso tímido e os olhos um pouco baixos, Marcella respondeu à minha pergunta sobre o que gostaria de comer naquela noite com uma simplicidade que me surpreendeu: “Queria cachorro-quente.”
Era um desejo tão modesto e ao mesmo tempo tão cheio de significado. E foi como se, naquele momento, cada detalhe da nossa conexão começasse a se costurar de uma forma única. Levantei-me, com a maior alegria, e fui para a cozinha. Mas não seria um cachorro-quente qualquer. Naquele instante, decidi que o faria com um carinho especial, algo que refletisse o cuidado e a gratidão por tê-la ali.
Preparei o molho caprichado, com salsichas bem cozidas, cebola bem refogada e aquele toque especial que aprendi ao longo da vida. Piquei tomate, alface, e usei o que tinha de melhor na geladeira. Não podia faltar o suco de laranja fresquinho, que espremi com o mesmo entusiasmo.
Quando o cachorro-quente ficou pronto, levei-o à mesa e observei. Marcella deu a primeira mordida e, naquele olhar de surpresa e satisfação, soube que algo diferente estava acontecendo. Ela sorriu e disse que estava delicioso, e eu, no fundo, senti que aquele não era apenas o melhor cachorro-quente que já fiz — era o mais importante.
Era como se, ao saborear cada pedaço, nós dois estivéssemos dando início a uma nova história. Uma história que, embora começasse com algo tão simples quanto um lanche, já mostrava a profundidade de uma relação construída nos pequenos gestos, na partilha e, claro, no apetite que sempre nos acompanharia.
E assim, o cachorro-quente daquela noite se tornou não apenas um prato, mas uma lembrança eterna. Um marco de que, a partir daquele dia, eu não estava mais sozinho à mesa. Agora éramos dois, sempre prontos para saborear a vida juntos, seja nas refeições, seja nos momentos que a vida nos reservasse.