Elize, parte 4 - Uma nova jornada
Rápido ele correu cortando as árvores o vento e na escuridão desapareceu.
Elize encolhida em seus braços nem percebeu, mas aos poucos o sono a abateu. Logo a manhã chegou, todo o perigo para trás ficou, mas as lembranças, ah as lembranças, quão terríveis eram, inesquecíveis. No destino estavam, Elize ao abrir os olhos não reconheceu, uma floresta e uma casa, na cama estava, fogo aceso, lenha cortada, o que será que aconteceu? Asanete! - gritou a pequenina. Logo entrando, sentou-se ao seu lado, os olhares se cruzaram mas logo o dele abaixou, pois não queria que ela visse que alguém toda a noite chorou. Elize - ele começou - você precisa ser forte, pois o que vou contar não é bom. Seu pai foi traído, o reino mais forte tornou-se em cinza através da união dos mais fracos, nada sobrou.
Elize aos poucos foi lembrando, nas memórias foi recordando, sua mãe morreu, seus irmãos provavelmente também, ela sabia que nada era deixado para trás. Durante todo o dia Elize calada ficou, lágrimas de vez em quando molhavam sua face, mas logo as enxugava, pois de sua mãe lembrava que dizia com firmeza: Se for chorar, que não seja por tristeza. Elize sempre foi incentivada pela mãe a ser mais que um simples rosto bonito, mesmo que ainda pequenina, desde cedo aprendia a manusear um arco, uma espada e um escudo, a usar a lógica. Parece que ela sabia o que estava por vir, talvez ela realmente soubesse, pois afinal o destino de Elize não deve ser o de uma princesa, mas sim o da grandeza. Ao final da tarde, Elize se levanta da rocha onde meditava em seus pensamentos na frente da casa, ao entrar na casa, observa Asanete com um grande livro, em pé diante de uma mesa, encarando com firmeza seja o que lá estivesse vendo. Quando Elize finalmente entra e fecha a porta silenciosamente, é surpreendida pela pergunta de Asanete: Como você está Elize?
- Melhor - respondeu - mas ainda não entendi o que aconteceu,
- O que exatamente? - pergunta Asanete sem tirar o livro de vista,
- Meu pai sempre foi bem quisto, trazia paz para o reino, sempre foi justo e pacificador, mas ainda assim não foi suficiente, ainda assim derrubaram sua casa, mataram meus pais, minha família, foi traído pelo próprio reino, por que?
- Talvez - Asanete começa a falar olhando para cima, mas logo muda a trajetória da conversa - a ser humano é algo estranho, alguns tem muito, mas querem tudo, outros tem pouco e se conformam com o nada. Isso foi o que aconteceu ontem, os que possuíam muito, quiseram tudo.
- Onde você estava? - perguntou Elize.
- No lugar certo. - Respondeu Asanete pensativamente.
Asanete então fechou o livro e o colocou na prateleira junto com outros mais, Elize observou com cuidado, silenciosamente se aproximou para ver com cuidado que livro se tratava, mas o mesmo não tinha título.
- Vamos dormir pequenina - falou Asanete virando-se e olhando diretamente nos olhos de Elize - amanhã temos uma longa jornada.
- Para onde vamos? - questionou Elize.
- Para os montes do sul, para o vilarejo de Adorim, precisamos ver alguém.
Logo o amanhã mostrou seus raios, Asanete e Elize estavam a caminho, montados em cavalos separados, um pensamento pairava na mente de Elize, o nome mencionado anteriormente parecia muito familiar, o vilarejo mencionado sempre estava nas histórias que sua mãe contava para ela, Adorim era o nome de um guerreiro que a muito tempo era conhecido por sua habilidade na luta e confronto armado, mas que sumiu da história, nunca mais seu nome foi ouvido novamente. Por qual motivo estariam eles indo para esse vilarejo com o mesmo nome deste guerreiro? Asanete estava estranhamente silencioso, olhos atentos ao seu redor, espada pronta para qualquer situação.
- Elize - chamou Asanete quebrando o silêncio - é bom que você a partir de agora se chame por outro nome, não sabemos o que ainda estar por vir, não sabemos se você está sendo procurada, que nome você gostaria de ser chamada?
- Margarita - respondeu prontamente a pequenina.
Asanete ouvindo a resposta, pronto sorriu, repetindo o nome em alta voz, lembrando que o nome da mulher que um dia ele amou também era o mesmo.
- Margarita será! - exclamou Asanete.
Ambos seguiram viagem em silêncio, Asanete já não reconhecia mais a pequena Elize, a figura antes curiosa, cheia de vida, parecia então constantemente reflexiva, séria, concentrada. Mas ele podia entender, por tudo o que ela passou, por tudo o que ela viu, mas a preocupação era onde toda esta tristeza, mágoa e raiva estavam sendo armazenadas. Se no coração, então pouco a pouco ela estava se perdendo, mas se na mente racional, então o tempo dará conta de lhe trazer de volta ao seu estado original. Mas ainda era muito cedo para tentar intervir, ainda é necessário deixar o tempo trabalhar.
Enfim, ao longe, ambos puderam ver as montanhas do sul, aos poucos foram chegando ao vilarejo. A entrada do mesmo era um grande arco de madeira bem entalhado, no topo de uma das montanhas, um lugar estrategicamente posicionado, no centro do vilarejo, uma homenagem ao grande guerreiro Adorim, sua estátua. De longe Elize pode ouvir o tilintar de espadas, descendo do cavalo, ela seguiu a direção do som, sendo observada pelos olhos de Asanete, ela caminhou até uma grande praça, onde dezenas de guerreiros estavam em treinamento, ela observava admirada, logo observou que na entrada da praça, logo acima havia o dizer: Mais um passo, uma nova jornada! Então Elize olhando para baixo, arrastou vagarosamente o seu pé, ultrapassando a linha onde a praça começava, onde a partir dali sentiu em seu coração que uma nova jornada havia começado.